O comportamento do presidente eleito já começa a incomodar políticos e setores da sociedade. Pelo que fala e pelo que deixa de falar. Ao não falar sobre temas realmente de interesse, mais do que isto, fundamentais para o país, ele reafirma ter sido eleito muito mais pelo não ao PT do que pelo sim às suas propostas. Propostas que não discutiu na campanha, no que o ajudou o hediondo atentado de que foi vítima. Acamado e impedido – em alguns momentos por conveniência- de participar da campanha e dos debates, o presidente eleito acabou sacramentado nas urnas sem que o país soubesse bem o que ele pensava. A discussão rasa dos temas importantes para o país, depois de eleito, comprova a inexistência de um plano real de governo. Bolsonaro, no duro mesmo, está montando, ou tentando montar agora, uma proposta de governo que seja minimamente exequível. E por não ter ainda o que dizer, incomoda com o que diz. Como por exemplo, agora, ao dizer que vai conferir pessoalmente as futuras provas do Enem para impedir questões que tratem de igualdade de gênero e outros temas. Ao prometer que fará o que não pode fazer, por não ser de sua competência legal, o presidente eleito deixa de se preocupar com os problemas reais do país para se ocupar do debate em torno do politicamente correto. Assume o papel de “paizão da pátria” e sinaliza que busca um tema raso sobre o qual opinar por estar despreparado para debater outros mais cruciais para o povo. Quando o tema é complexo, acaba escorregando para o populismo, como ao dizer que considera “um absurdo” a proposta de elevação da contribuição previdenciária pelo servidor público, defendida por sua equipe econômica. Prudência e caldo de galinha, ensinavam os antigos, não faz mal a ninguém. Bolsonaro deveria agir assim, sem arroubos juvenis, pois a realidade pode obrigá-lo a mudar de opinião e, mais à frente, ser cobrado por isto. Talvez seja o momento, como alguns políticos e até mesmo simples simpatizantes já defendem, do presidente – sim, ele já é o presidente e suas declarações têm efeitos para o bem e para o mal- escolher um porta-voz. Alguém que fale por ele e que amanhã, dependendo da repercussão, pode ser desmentido ou até demitido. É pior para nós que vivemos da notícia? Claro que é, mas é melhor para o país. Mesmo que eleito pelo voto do não, Bolsonaro representa, para milhões de brasileiros, a esperança de mudanças. O pior que pode lhe acontecer neste momento, é perder a credibilidade diante da população. Por isto, precisa tomar cuidado com seus pronunciamentos, arroubos – seus e de seus próximos, inclusive filhos- e atos. Precisa, até mais do que parecer, ser sério, honesto e preparado para o cargo. A missão de recolocar o país nos trilhos é difícil. Como seria para qualquer outro.