A presidente Dilma Rousseff (foto) reafirmou em entrevista a correspondentes de seis jornais estrangeiros, na na manhã de ontem, no Palácio do Planalto, que não renunciará ao mandato. Dilma recebeu repórteres do francês “Le Monde”, do norte-americano “The New York Times”, do argentino “Pagina 12”, do espanhol “El País”, do inglês “The Guardian” e do alemão “Die Zeit”. A entrevista, segundo o “NYT”, durou mais de uma hora. A presidente disse aos correspondentes que o processo de impeachment que tramita na Câmara “não tem fundamentos legais”. Segundo o repórter Thomas Fischermann, do periódico alemão “Die Zeit”, que participou da entrevista, Dilma classificou aos jornalistas estrangeiros de “golpe” a tentativa de tirá-la do poder por meio de um processo de impeachment. “Ela usou essa palavra, golpe. Disse que é um golpe diferente do que ocorreu na ditadura militar, mas é um golpe”, relatou o correspondente do “Die Zeit”. Segundo o “The New York Times”, Dilma criticou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e disse que ele colocou o impeachment em andamento para desviar a atenção das acusações contra ele – Cunha é réu na Operação Lava Jato, que apura desvio de dinheiro na Petrobras e em estatais. O jornal também afirmou que, questionada sobre se aceitaria eventual impeachment, a presidente respondeu que vai apelar a “cada método legal disponível”. O texto do “The New York Times” diz que Dilma “aparentemente está se preparando para uma batalha prolongada”. Na entrevista, informou o jornal, ela negou que suas duas campanhas presidenciais tenham recebido recursos ilegais.
‘The Guardian’
O jornal britânico “The Guardian”, também presente à entrevista, afirmou em reportagem em seu site que Dilma disse que não vai renunciar e não é uma “mulher fraca”. Ainda segundo o jornal, Dilma afirmou que o impeachment, se aprovado, vai deixar “profundas cicatrizes na vida política brasileira”. Além disso, o “The Guardian” relatou que Dilma fez uma crítica “velada” ao juiz Sérgio Moro, que conduz as investigações da operação Lava Jato, ao dizer: “um juiz deve ser imparcial. Um juiz não pode julgar com paixões políticas”. Recentemente, Moro quebrou o sigilo telefônico do ex-presidente Lula e divulgou gravações envolvendo Dilma. Dilma também ataca as escutas, que considera ilegais, feitas pela Polícia Federal. “Violar a privacidade fratura a democracia porque fere o direito de cada cidadão de ter uma vida privada”. O periódico também reproduz uma fala de Dilma sobre as Olimpíadas, em que ela diz que a “paz deverá reinar” no Brasil nos jogos do Rio de Janeiro.Rep
Repercussão internacional
A atual crise política brasileira tem chamado a atenção da imprensa internacional. Nas últimas semanas, o Brasil foi tema de reportagens e editoriais de veículos estrangeiros. A mais recente edição da revista britânica “The Economist” – uma das mais prestigiadas do mundo – traz um editorial sobre o Brasil com o título Time to Go (Hora de partir), em referência à situação política de Dilma Rousseff. A revista é publicada no final da semana, mas a capa da edição latino-americana, estampada pela presidente brasileira, foi divulgada no Twitter na quarta. A revista do Reino Unido diz que a presidente brasileira “perdeu o que lhe sobrava de credibilidade” com a nomeação do ex-presidente Lula da Silva para o comando da Casa Civil.