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Dilma nos palanques reduz o conceito de honestidade

Paulo César de Oliveira
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Ser honesto é muito mais do que não roubar. É não deixar roubar, mas é também não falsear a verdade, apregoar fatos que se sabe não ser verdadeiros, em defesa própria. E nestes dois últimos quesitos a presidente Dilma não tem sido honesta. Pode-se acreditar, e realmente nada há de concreto que indique nesta direção, que ela não roubou no sentido clássico daquilo que o povo fala dos políticos: enfiar dinheiro no bolso. Isto é fácil acreditar. Mas não dá para acreditar numa palavra sequer do que ela tem dito nos palanques que, às pressas, resolveu montar Brasil afora, numa desesperada, e que se avizinha vã, tentativa de salvar seu mandato e sua biografia. Quando diz ao povo, nada de multidões também, arregimentado para o comício de entrega de pouco, que está sendo vítima de um golpe apenas por ela ter destinado os programas do governo aos mais pobres. Quando diz que está sendo vítima da vingança de Eduardo Cunha e da ambição de Michel Temer, a presidente não está sendo honesta. Ela sabe que está sofrendo um impedimento não porque as elites são contra os pobres. Não porque roubou, aí entendido como colocou no bolso- ou por vingança e ambição de adversários, não está sendo honesta com os fatos. Ninguém quer, nem teria condições políticas de fazê-lo, acabar com os programas sociais. No máximo se admite uma revisão para acabar com os excessos e os desvios. O Congresso, não Cunha ou Temer, podem decretar seu impeachment por prática de crimes de responsabilidade, não por crimes comuns, de furto, roubo, corrupção. Ela sabe que o crime que praticou é de difícil compreensão para a imensa maioria das pessoas, e faz jogo de palavras para construir uma defesa, para se colocar como vítima de uma injustiça. Fala sobre os palanques em decretos de suplementação, decretos de contingenciamento, como se estivesse diante de uma plateia capaz de dominar assunto tão técnico. Mas comete uma desonestidade inconsequente, quando tenta, como estratégia de defesa, criar uma luta de classes, tentando insuflar os mais pobres contra os que conseguiram um pouco mais. Criar este ambiente de conflito é não ser honesta com o país que, totalmente desestruturado, precisa de paz e unidade para voltar a crescer. A presidente tem poucos dias para novos comícios. Que os utilize com honestidade, mostrando ao povo o que fez. Sem atribuir aos outros seus erros. Sem criar ódios. Dilma (foto) precisa reconhecer que está perdendo, e de muito, mas que ainda não está inteiramente derrotada. Que use o tempo que lhe resta para defender sua biografia, sem agredir a verdade.

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