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Discurso de Bolsonaro: erro grosseiro ou estratégia bem traçada?

Paulo César de Oliveira
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Entre as inúmeras histórias infantis que encantavam antes da internet tem a do sapo e o gavião. Depois de capturar o sapo com quem discutira, o gavião começou a voar sobre a água e as margens do rio com o desafeto preso nas garras, ameaçando soltá-lo lá do alto. Tremendo de medo, o sapo tratou de colocar em prática uma estratégia e passou a gritar, pedindo ao gavião que não o jogasse dentro da água pois morria já que não sabia nadar. Preferia ser jogado nas pedras. O esperto sapo, às vezes faz lembrar o presidente Bolsonaro. Só mesmo como uma estratégia bem pensada se explica a sua atuação em determinadas questões políticas. A mais evidente é a reforma da Previdência. Seu único projeto de governo até aqui, a reforma tem no presidente e em alguns de seus aliados mais próximos, seus principais adversários. Volta e meia o presidente dá palpites, insinua alterações – como se este fosse um projeto seu, pessoal, não do país- que irritam parlamentares e dificultam a discussão do tema. Fica a impressão de que o presidente, como o sapo, quer a aprovação do que diz combater, e age provocando os deputados para que eles votem contra suas opiniões, na esperança de que estejam demonstrando independência política. Se não for assim, se o presidente estiver dando os seus palpites, normalmente errados, com convicção, ele fica muito semelhante ao ex –presidente Itamar Franco que, como Bolsonaro, teve a coragem e a ousadia de bancar um projeto – no caso de Itamar o real- capaz de mudar o Brasil. Itamar também falava o que o incomodava, sem levar em conta que era o presidente da República e que, por isso, deveria ser mais cauteloso em suas críticas e opiniões. Itamar teve em Fernando Henrique o seu anteparo, alguém para contornar eventuais desgastes de seus comentários. Para muitos, ele foi o embaixador do plano, aparando os excessos verbais do chefe, pavimentando os caminhos políticos do real. Bolsonaro não tem quem faça este trabalho, apesar de ter em Paulo Guedes um ministro de extrema competência técnica. Mas um neófito em política. Bolsonaro, que teve a sensibilidade política para perceber, e usar em sua campanha eleitoral o desgaste do modelo PT, pode agora estar incorrendo no erro da precipitação, ao lançar-se candidato à reeleição em 2022. Ele que já havia instalado seu palanque eleitoral dias atrás, no interior de São Paulo, voltou a subir no banquinho da reeleição neste final de semana, em Brasília, quando afirmou, em encontro numa festa no Clube Naval de Brasília, que é candidato à reeleição, ao prometer entregar um Brasil melhor em 2026. Ao antecipar tanto o processo sucessório, o presidente faz exatamente aquilo que critica nos adversários: cuida de seu mandato, colocando-o acima dos interesses nacionais. O resultado disto é o recrudescimento político, com esperados reflexos na aprovação de seus projetos de governo. Certamente os reflexos da ansiedade presidencial não serão tão grandes na reforma da Previdência. A partir daí…

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