O ex-presidente Lula da Silva (foto) afirmou nessa segunda-feira (22) que o PT “perdeu” a utopia e defendeu uma “revolução” no partido que abra caminho para lideranças mais “jovens e com mais coragem”. A declaração foi dada durante o seminário “Novos Desafios da Democracia”, promovido pelo Instituto Lula, em São Paulo. “Perdemos um pouco da utopia. […] Fico pensando se não está na hora de fazer uma revolução neste partido e ter lideranças mais jovens, ousadas, com mais coragem”, disse. Para Lula, o “PT perdeu um pouco a utopia. Eu lembro como é que a gente acredita nos sonhos, como a gente chorava quando a gente mesmo falava, tal era a crença. Hoje a gente precisa construir isto porque a gente só pensa em cargo, a gente só pensa em emprego, a gente só pensa em ser eleito e ninguém mais hoje trabalha de graça”
Lula já aceita uma alternativa ao PT
O ex-presidente disse ainda que, para mudar a realidade, é preciso entrar na política. Ele destacou que foi isso que fez, com a criação do PT e as reiteradas tentativas de chegar à Presidência da República por meio do voto. “Quando você é oposição, é muito fácil. Você pensa, acha, acredita. No governo, tem de fazer e tomar posições. Agora, não dá pra mudar se você não entra na política. Quando decidimos mudar o Brasil, criamos um partido e uma central sindical”, relatou. “Se perguntarem qual foi meu maior legado, foi o exercício de democracia que praticamos no governo”, completou Lula. Apesar de pregar uma revolução interna, o ex-presidente também defendeu os governos do PT dizendo que houve um estímulo à participação popular na tomada de decisões. Ele afirmou que em seus dois mandatos como presidente, foram realizadas 74 conferências nacionais para discutir políticas públicas com a população. “Nunca antes na história do Brasil o povo exerceu tanto a democracia e participou das decisões do governo como no governo do PT. Dos movimentos de hoje, que surja um partido melhor que o PT, mas que surja. Porque quando se nega a política, o que vem é muito pior.”
Distribuir riqueza sem destruir a produção
O ex-presidente da Espanha Felipe González (foto) também participou do seminário e destacou que é preciso “distribuir riquezas”, mas também manter os mecanismos de produção. “Acredito na redistribuição da riqueza, mas quando essa riqueza está sendo gerada. Não acredito na distribuição da pobreza. Se um governo acredita que está sendo de esquerda enquanto destrói sua estrutura produtiva, está errado”, opinou. Filiado ao Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), sigla de esquerda, González destacou que não basta tirar milhões da pobreza extrema, é preciso saber governar para esse grupo. “Quando você tira 40 milhões de pessoas da pobreza, como se fez no Brasil, elas mudam. Se tornam cidadãs. Nossa responsabilidade como esquerda não é só ganhar o poder, mas gerenciá-lo para continuar representando as maiorias sociais, que mudam”, afirmou.