O presidente interino Michel Temer escreveu uma carta ao Congresso Nacional na qual diz que possui compromisso com os programas sociais e critica a gestão da presidente afastada Dilma Rousseff. No documento, enviado nessa sexta-feira (8) aos parlamentares, Temer diz que melhorias em programas como o Bolsa Família e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) são prioridade do seu governo. Ao citar o reajuste de 12,5% que será concedido ao benefício médio do Bolsa Família neste mês, o presidente interino mencionou os valores e disse que o aumento “é superior aos 9% anunciados em maio e não concretizados pela gestão anterior e está acima da inflação dos últimos 12 meses”. De acordo com Temer (foto), foram repassados mais de R$ 200 milhões para 2.650 prefeituras que atendem crianças beneficiadas com o programa em creches. “Estamos honrando os compromissos que não foram cumpridos no governo anterior e liberando a segunda parcela do que deveria ter sido pago em 2015”, disse. Segundo o presidente interino, o governo trabalha “incessantemente” para que as famílias melhorem sua renda e deixem de depender do Bolsa Família. Ele afirmou também que tem atuado para “aperfeiçoar os mecanismos de transferência de renda para a população mais pobre”. “Não podemos permitir que estes importantes benefícios tenham sua trajetória desviada e, para isso, determinei uma atualização do cadastro de beneficiários, fazendo com que os recursos cheguem efetivamente para aqueles que realmente precisam”, escreveu. Segundo a mensagem, o governo tem priorizado também a educação ao autorizar a criação de 75 mil vagas no Fies e a destinação dos recursos faz parte do entendimento de que a diminuição da desigualdade no país passa pela educação. “Para esse governo, a educação é fundamental para o País. Por isso, ampliando as ações nessa área, liberamos R$ 700 milhões para programas destinados à educação”, diz.
No palanque Dilma acusa Temer
A presidente afastada Dilma Rousseff participou ontem, em São Paulo do ato Mulheres com Dilma em defesa da democracia, organizado pela Frente Brasil Popular SP. Em discurso, Dilma disse que o governo interino é “fruto de um golpe”, porque só revela parte da verdade. “Eles dizem que o golpe não existe, porque o impeachment está previsto na Constituição. Como sempre, eles só revelam parte da verdade. Sim, o impeachment está previsto na Constituição, mas eles não falam que, para ter impeachment, precisa ter crime de responsabilidade. E não há crime de responsabilidade”, avaliou. “Por isso, essa é a primeira constatação que faço sobre esse governo golpista, usurpador, integrado por pessoas que tem muito pouca credencial para ocupar com idoneidade o Palácio do Planalto. Quero me referir ao fato de que é um governo de homens brancos e ricos. É um governo que não tem mulher nem negros em um país como o nosso.” O evento Mulheres com Dilma em defesa da democracia ocorreu nas instalações da Casa de Portugal, no centro da capital paulista. Desde as 16h, o público já chegava ao local para participar do ato. Por causa da lotação limitada, um telão foi colocado em frente ao prédio, na Avenida Liberdade, para que mais pessoas pudessem acompanhar. Segundo a organização, cerca de 500 pessoas estavam do lado de fora acompanhando. A presidente afastada disse ter certeza de que há um “conteúdo machista nesse golpe”. “Temos um estereótipo da mulher que faz com que tenha gente ultraconservadora que defende o estupro culpando a mulher, como se um ato de violência fosse culpa da vítima”, disse. “Mulher pode ser presidenta! Não podemos esquecer que mulher pode e deve ser presidenta, mulher pode e deve ser ministra em um país que tem maioria de mulheres. O fato de eu ser a primeira mulher presidenta da República teve um significado no país, que, sabemos, tradicionalmente tem valores paternalistas e conservadores”.