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Era para ser um dia de festa. Virou um dia de cão

Paulo César de Oliveira
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Não foi uma cerimônia oficial, embora com todas as pompas dos cerimonialistas, a posse coletiva dos novos ministros do Governo Dilma ontem, no Palácio da Alvorada. Foi mesmo uma festa partidária, com direito a presença maciça de militantes com bandeiras, bonés do MST e coro do “não vai ter golpe” e até pancada no deputado federal Major Olimpio, do Solidariedade de São Paulo que, no meio da festa petista, antes do início do discurso da presidente Dilma, criticou o ato gritando, várias vezes, “vergonha”, num protesto contra a posse de Lula, na Casa Civil. Retirado o intruso aos empurrões, tapas e pontapés a festa continuou e na sua fala a presidente se desdobrou em elogios a Lula e em críticas às oposições e aos juízes que, segundo ela, estão interpretando mal a conversa que ela teve com Lula, conversa grampeada pela Polícia Federal, em que sugere ao ex- presidente que utilizasse um termo de posse como achasse melhor. Para todos os envolvidos na Lava Jato a presidente sugeria a Lula que transformasse em “salvo conduto” um suposto termo de posse, no caso de ter a prisão decretada. Dilma garantiu que não era nada disto e que sua conversa com o ex-presidente foi “republicana”. Não foi assim que entendeu o juiz federal Itagiba Catta Preta, de Brasília que, em decisão liminar em ação popular, determinou a anulação da posse de Lula por indícios de irregularidades. A decisão dele foi apenas a primeira. Outras liminares com o mesmo teor já foram concedidas e dezenas de outros pedidos estão em análise em outras Varas Federais. No STF também há mandados de segurança ações contra a nomeação de Lula e, ainda hoje, deverá sair a decisão do ministro Gilmar Mendes sobre o assunto. Mas não foi apenas a posse de Lula que gerou conflitos políticos. O vice-presidente Michel Temer deixou de comparecer à festa petista por considerar uma afronta ao seu partido, o PMBD, a posse do deputado Mauro Lopes na Secretaria da Aviação Civil. O PMDB tinha decidido, em convenção, que nenhum de seus filiados aceitaria qualquer cargo no governo num período de trinta dias, até que a outra convenção do Diretório Nacional, decidisse se o partido vai ou não permanecer apoiando a presidente. O que foi considerado uma afronta da presidente resultou na antecipação da convenção. Agora, o PMDB decide no próximo dia 29 se abandona ou não, oficialmente, o barco governista. Se a posse de Lopes foi problemática, a de Eugênio Aragão, novo ministro da Justiça, e de Jacques Wagner, numa ainda não ainda compreendida chefia do Gabinete Pessoal da Presidência da República, cargo com status de ministro foram tranquilas. Mas as dores de cabeça de Dilma e Lula não terminaram por ai. A repercussão dos grampos das ligações do celular usado pelo presidente aumentou a temperatura política e houve respostas duras ao ex presidente. O Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, de quem Lula cobrou solidariedade e colaboração até como forma de agradecimento por estar no cargo, controlou a fala, mas respondeu com firmeza de que não devia a ninguém por ser procurador, pois está no Ministério Público há 32 anos, por concurso público. Se deve a alguém, é à sua família. Coube ao ministro Celso Mello, decano do Supremo Tribunal Federal, responder ao comentário do ex-presidente, numa conversa telefônica, que o Judiciário se acovardou diante da Lava Jato. “Foi uma reação torpe e indigna, típica de mentes autocráticas e arrogantes” — classificou o ministro, dizendo que a manifestação merece “repulsa”. O decano disse ainda que STF “não hesitará em fazer recair sobre aqueles considerados culpados todo o peso e toda a autoridade das leis criminais”. Para aumentar os problemas, a Câmara Federal retomou ontem a tramitação do pedido de impeachment da presidente Dilma, instalando a Comissão Especial que analisará o caso. Para comandar a comissão que dará parecer sobre a admissibilidade do impeachment, foi escolhido o deputado Rogério Rosso, do PSD –partido da base governista- ligado ao deputado Eduardo Cunha. Na relatoria, outro aliado de Cunha: Jovair Arantes, de Goiás. Hoje a comissão já deve se reunir. Lula, ao final do dia, viu ainda a divulgação de relatório das apreensões feitas em seu apartamento, de documentos referentes ao sítio de Atibaia, inclusive minuta de um contrato em que ele aparece como comprador. O documento não tem assinaturas ainda. Hoje Lula deve voltar ao Planalto, onde espera definições do Judiciário sobre se permanecerá ou não ministro. Enquanto espera, fica na condição definida pelo ministro José Eduardo Cardozo, da Advocacia-Geral da União; “é sim ministro, só não pode tomar nenhum ato oficial do cargo”. Isto significa que, por enquanto, não pode usar o talão de cheques em branco que a presidente, por decreto lhe entregou: a subordinação do Programa de Aceleração do Crescimento ao seu ministério. O PAC tem muita verba, o que é enorme facilitador de acordos políticos.

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