O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (foto) disse ontem que o PSDB está dividido e que a possibilidade de abandonar o governo de Michel Temer é “de meio a meio”. Tentando amenizar a situação, ele afirmou que a crise política que o Brasil enfrenta “preocupa mais” que os problemas internos do seu partido. “A situação é ruim, porque o PSDB está dividido. A votação de quarta mostrou isso e o PSDB não está fora desse jogo geral dos partidos. Houve perda de crença nos partidos, e isso inclui o PSDB. A essa altura, me preocupa menos o PSDB do que o conjunto da situação política brasileira. O sistema político que nós criamos, a Constituição de 1988, está esgotado”, disse o ex-presidente em um evento no Instituto FHC, em São Paulo.
Vitória foi boa para Temer, mas não resolve para o país
No total, 22 deputados do PSDB votaram a favor de Temer, 21 deram voto contrário e quatro se ausentaram. Sobre o resultado da votação, FHC afirmou que “foi uma vitória de Pirro”. “Para o presidente Temer, essa vitória adianta, mas, para o país, essa não era a questão. O país não pode mudar de presidente a cada seis meses. O país tem que ter horizonte de esperança, uma visão que motive as pessoas”, comentou, explicando que as eleições de 2018 colocarão à prova os nomes que podem “resgatar a confiança dos brasileiros”. De acordo com FHC, os tucanos deverão apoiar o governo na aprovação das reformas, mas a permanência na base aliada será discutida. “Governar quer dizer aprovar medidas de reforma. E o PSDB vai ter que aprovar as reformas, não há dúvida. Mas ficar no governo é uma questão mais complicada. A possibilidade é meio a meio”, anunciou o tucano. “A minha inclinação hoje é: ‘vamos aprovar as reformas e pensar no que fazer no futuro’. Não devemos ter uma posição oportunista, mas não há motivo também para ficar ligado ao que não concordamos. Quem deu a sustentação maior do governo foi o ‘centrão’, e eu não concordo com o centrão como estilo político”, criticou.
Povo cansa de esperar a Justiça
Fernando Henrique também defendeu a continuação das investigações e ressaltou a necessidade de uma Justiça rápida. “Temos um problema que não está resolvido. A corrupção foi muito grande no Brasil, pegou muita gente, de vários lados, vários partidos, há uma descrença da população”, disse. “É preciso que os processos continuem, que a Justiça seja mais rápida, porque cansa esperar, esperar, esperar e não ter resultado, e é preciso que haja uma transformação mais profunda. Os partidos estão muito desmoralizados”.