A notícia de que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), vai decidir hoje (13) sobre o pedido de impeachment da presidente Dilma, elaborado pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior, acendeu a luz vermelha no Palácio do Planalto. As informações divulgadas na imprensa são as de que Cunha já escolheu a manobra que vai usar para dar andamento ao processo. Primeiro ele rejeita o pedido. Como nesse caso, cabe recurso ao plenário da Câmara, bastaria a aprovação do recurso por maioria simples dos presentes à sessão para dar andamento ao processo. O governo corre contra o tempo para reverter esse quadro. Sem maioria na Câmara e sem apoio popular, a presidente Dilma (foto) parece estar cada vez mais acuada. Para encontrar uma saída para a crise, a presidente Dilma convocou ontem (12) os ministros da Casa Civil, Jaques Wagner, da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, da Justiça, José Eduardo Cardoso e o assessor especial Gilles Azevedo. Uma das sugestões levadas à presidente é a de acusar Eduardo Cunha de agir por vingança ou motivos pessoais e com isso enfraquecer o presidente da Câmara e lhe tirar a legitimidade para tratar do assunto. Eduardo Cunha tem sido pressionado a deixar o cargo após a divulgação de que ele e sua família usavam contas secretas na Suíça para pagar despesas pessoais. Ele avisou que não vai deixar o cargo e ao que tudo indica, os movimentos do Palácio do Planalto funcionam como um combustível para Eduardo Cunha, que vai agilizar o andamento do processo de impeachment antes dele ser afastado da Casa pela Justiça.
Seriedade, é só o que a sociedade quer
O desenrolar dos fatos hoje, na Câmara dos Deputados, terá profundas consequências na vida dos brasileiros. Qualquer que seja a decisão do deputado Eduardo Cunha quanto ao encaminhamento do pedido de impeachment da presidente Dilma, ela trará estragos sérios em nossas instituições. Se é que isto ainda é possível. A forma como este assunto vem sendo conduzido, expõe o interior de nossa política. Se a disputa fosse num grêmio estudantil, diríamos que situação e oposição estão fazendo molecagem com coisa séria. Como envolvidos nas trapalhadas estão os altos escalões dos poderes da República, vamos dizer que estão numa guerra sangrenta pelo Poder. A possibilidade de impeachment de um presidente da República desestrutura um país, especialmente sua economia, pelas incertezas jurídicas que provoca. Mas, nem por isso, pode ser deixada de lado simplesmente. Se há razões para o impedimento, que se faça. Não é golpismo, tentativa de terceiro turno ou atentado a democracia. É a aplicação da lei, como foi com Collor. Pregar a destituição de um presidente, também não é pregar golpe. É forçar a abertura de um debate, como foi a campanha “Fora FHC” que muitos dos que acusam tentativas de golpe hoje, pregaram abertamente. Seriedade é o mínimo que se pede neste momento. Até aqui, no nível em que o assunto está sendo tratado, ganham apenas os aproveitadores. E Eduardo Cunha, ao analisar os pedidos em conta gotas, é um deles. Razões para o impeachment existem ou não existem. Discussões jurídicas à parte, algumas patéticas e apresentadas como argumentação séria, o que precisa ser discutido é se houve ou não violação da lei pela presidente Dilma. Se houve, que se leve adiante o pedido. Se não, que se arquive ou se mantenha engavetado até que se concluam as investigações. Não se pode é ficar neste lenga- lenga, dando oportunidade aos abutres de chantagearem o governo, em busca de cargos e favores. Afinal, os chantageados somos todos nós.