Lula (foto) e o Judiciário brasileiro dividem o papel de “Genis” da vida pública nacional. O petista pela decepção que causou ao se misturar na corrupção – que seu partido alega não provada – e o Judiciário pelas trapalhadas de seus membros, pela demora nos julgamentos, pelos ataques dos condenados e seus amigos e, mais recentemente, pelo auxílio moradia recebido pelos ministros, desembargadores e juízes. Auxílio que de resto é recebido por diversos outros segmentos da administração pública. Sérgio Moro e Marcelo Bretas são os alvos principais das críticas, curiosamente dois envolvidos em julgamentos de réus da Lava Jato. Bretas, para complicar, recebe o auxílio dobrado pois sua mulher também é juíza. Mais do que qualquer membro de outro Poder, o do Judiciário tem que ser como a mulher de César a quem não bastava ser honesta, precisava parecer honesta. Receber auxílio moradia não é propriamente um ato de desonestidade, mesmo que dois auxílios numa mesma casa própria. É, no máximo, um ato de pouca moralidade. Melhor não receber para transparecer honestidade. Dito isto, é preciso que a discussão sobre o assunto se dê por um viés. Moro explicou que o auxílio moradia é, na verdade, uma espécie de complementação de salário a quem não tem reajuste, como manda a lei. Um adendo: a maioria dos servidores também não teve reajustes e, no entanto, não tem penduricalhos que compensem. Mas, esqueçamos este detalhe e vamos em frente. Os penduricalhos servem para escancarar para a sociedade a necessidade de uma discussão séria sobre salários no país. Quanto deve ganhar um parlamentar, quanto deve ganhar um juiz, um militar, um porteiro, um motorista, um pedreiro e assim, cada profissional. Que se pague a cada um pelo valor de seu trabalho, mas sem cestas básicas, vale refeição, vale transporte, auxílio moradia, auxílio creche, auxílio paletó, verba para divulgação de mandatos, cargos para assessores e tantas outras vantagens que só mascaram ganhos e enganam o Imposto de Renda e a Previdência. É preciso rever esta política. Pagar o salário justo e cada um faça dele o que bem entender, sem subterfúgios. Faça uso ético de seu salário. More onde quiser, mas pagando de seu bolso. Visite as bases quantas vezes quiser, mas pagando com o seu salário. Contrate os assessores que quiser, mas pagando de seu salário. Faça gracinhas com seus eleitores, compre seus votos, mas pagando de seu bolso, não através de penduricalhos. Bom, esta é a discussão a ser feita. No caso dos maiores salários, especialmente nos Poderes, a discussão não pode se iniciar com a hipocrisia do estabelecimento do padrão salarial tomando por base o ganho de um trabalhador ou um aposentado do mínimo. O maior salário não pode ter o mínimo como referência. Aliás, pode sim, mas ela será a do mínimo legal ou do necessário? O mínimo de R$ 954,00, fixado para este ano, ou o de R$ 3.585,05 que o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos definiu como o necessário, em dezembro passado, para atender o que define a Constituição. A referência deve ser o mínimo ou o nano?