O caso da deputada Carla Zambelli (foto/reprodução internet) ilustra com precisão a colisão entre fidelidade política e responsabilidade institucional. Ao cumprir a decisão do STF e declarar extinto o mandato de Zambelli, o presidente da Câmara, Hugo Motta, agiu conforme exige o Estado Democrático de Direito. Mas o episódio vai além do rito jurídico e escancara o modus operandi do bolsonarismo. A lealdade cega da deputada não impediu o abandono, algo já visto com outros aliados que caíram em nome de um projeto de poder centrado em Bolsonaro. Com Daniel Silveira houve indulto e com Zambelli, silêncio. A reação da base bolsonarista, que acusa violação da independência dos Poderes, revela um erro conceitual grave, o de que autonomia não é soberania. A harmonia entre os Poderes exige limites e freios, não feudos institucionais. O gesto da Câmara não afronta, mas fortalece a democracia, ao mostrar que até mandatos eleitos se curvam à Constituição. É a institucionalidade reagindo, não contra alguém, mas a favor de algo maior.