Blog do PCO

Lula errou tudo

Paulo César de Oliveira
COMPARTILHE

Ao classificar erroneamente de “general que matou Antônio Conselheiro” o militar Thomaz Thompson Flores, antepassado do presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (foto) esbarrou num episódio pouco lembrado da história brasileira: a atuação do Exército, e particularmente de tropas estacionadas no Rio Grande do Sul, no esmagamento do arraial rebelde de Canudos. Lula, em seu discurso durante ato “Em Defesa da Democracia e de Lula”, realizado por artistas e intelectuais no Rio de Janeiro, na última terça-feira (16), para agredir o presidente do TRF-4 afirmou: “Esse cidadão é bisneto do general que invadiu Canudos e matou Antônio Conselheiro”. Errou no principal e nos detalhes históricos. Thompson Flores não era general, e sim coronel. Tampouco não era bisavô, e sim tio trisavô do desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, que preside a Corte encarregada de julgar, na quarta-feira (24), o recurso do ex presidente da sentença condenatória proferida pelo juiz federal Sergio Moro no processo do tríplex do Guarujá. Ele também não matou Conselheiro, que morreu durante o cerco a Canudos, no dia 22 de setembro de 1897, provavelmente de inanição. Quando o líder do povoado insurreto morreu, o militar citado por Lula já estava morto havia cerca de três meses.

 

Uma guerra que foi uma chacina

Na campanha de Canudos, um arraial miserável do interior da Bahia resistiu e foi vitorioso contra três expedições militares. A terceira, em março de 1897, opôs 1,3 mil homens sob o comando de um dos mais destacados oficiais da época, o coronel Antônio Moreira César, à cidadela de jagunços armados com bacamartes e facas. Mesmo assim, as tropas foram trucidadas ao chegar a Canudos – um total de 126 militares, incluindo o comandante, morreu em combate. O povoado só foi aniquilado, a custa de um dos maiores massacres perpetrados em solo brasileiro, no qual prevaleceu a prática da degola de prisioneiros pelos vitoriosos. O episódio deu origem a um clássico da literatura latino-americana – Os sertões (1902), de Euclides da Cunha – e provocou uma crise militar que as Forças Armadas levariam anos para superar.

 

“Pomba branca abatida em voo”

Poucas baixas exprimem de forma tão crua os erros do Exército em Canudos como a de Thompson Flores. Ele fez parte da quarta e última expedição enviada contra o povoado sertanejo, em junho de 1897. No combate do Morro da Favela, em 28 de junho de 1897, ele marchou à frente da 3ª Brigada de Infantaria contra o inimigo entrincheirado. Destemido, levava sobre o dólmã branco os galões dourados de oficial, que funcionavam como farol para a mira dos sertanejos sob o sol do sertão. Um tiro acertou-lhe o coração e derrubou-o da montaria. Um dos que não esqueceu a cena foi Antônio Beatinho, sacristão de Canudos, aprisionado meses depois. Em interrogatório, ele disse que o coronel “parecia uma pomba branca, ferida no voo por uma flecha”. Com a BBC Brasil.

COMPARTILHE

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

News do PCO

Preencha seus dados e receba nossa news diariamente pelo seu e-mail.