A solução foi óbvia: Lula (foto) vai ser coordenador informal, sem ocupar cargos na estrutura de governo. Vai poder assim ajudar a presidente Dilma na batalha contra o impeachment. O ruim para ele é que, sem a nomeação, não terá salários e as vias tradicionais de compensação estão obstruídas. Não dá mais para negociar como nenhum grande fornecedor do governo o pagamento de salário a quem, de fora da estrutura, presta serviços, mesmo que eles sejam fundamentais, para a governabilidade. É muito arriscado. Se a presidente e Lula tivessem analisado com mais calma a situação, teriam percebido que o mar estava revolto e a nomeação do ex-presidente para um ministério era mais problema do que solução. Apostaram e perderam, criando uma batalha judicial que não leva a nada e que gera notícias negativas para o governo todo o tempo. Lula chega agora a Brasília para uma missão que ficou ainda mais complicada por problemas alimentados pela incapacidade do próprio governo em fazer política. E olha que ele é apontado como mestre nisso, embora nos últimos tempos, talvez dominado pela certeza da impunidade e pela quase certeza de que é santo, venha metendo os pés pelas mãos. Dilma tem agora apenas mais oito sessões plenárias da Câmara dos Deputados para apresentar sua defesa. Eduardo Cunha tem mostrado força política e conseguiu promover sessões da Câmara na sexta-feira e ontem, dias absolutamente improváveis de se encontrar parlamentares em Brasília. Enquanto o pedido do impeachment na Câmara avança, o PT e o Governo insistem em buscar o Judiciário para fazer Lula ministro. Ontem o ministro Edson Fachin, sorteado relator do habeas-corpus contra a decisão do também ministro Gilmar Mendes, de impedir a posse do ex-presidente no ministério, se declarou suspeito para fazer o julgamento. Agora o pedido foi para ser relatado pela ministra Rosa Weber, citada por Lula em uma das conversas grampeadas. A aposta, em Brasília, é de que ela também deverá alegar suspeição para não relatar. Aí terão que escolher outro ministro e o tempo vai passando, com os petistas se desgastando com o Poder Judiciário. Farão melhor se deixarem de lado esta história de ministério para Lula. O juiz Sérgio Moro já tem problema de sobra para criar mais um, decretando agora a prisão do ex-presidente. Certamente, ele vai preferir esperar cozinhar Lula por mais tempo para não colocar em risco a Operação Lava Jato. Que Lula, sem a proteção do foro especial, tente fazer seu trabalho de assegurar votos para que Dilma não sofra o impeachment. Não é tão difícil assim. Mas é preciso correr. Caso contrário… Os manifestantes já estão escrevendo impeachment, com laser, na fachada do Planalto.