Em outubro de 1993 o ex-presidente Itamar Franco demitiu de seu ministério seu amigo pessoal Henrique Hargreaves, acusado de envolvimento em escândalo de manipulação do Orçamento da União. Exonerou e avisou que, se ele fosse inocente, voltaria ao cargo. Quatro meses depois, sem que as acusações se comprovassem, Itamar reconduziu o amigo Hargreave. A presidente Dilma (foto) está agora diante de um dilema semelhante. A homologação, pelo STF da delação premiada do senador Delcídio do Amaral, que ontem se desligou do PT, e, mais do que isto, a divulgação de gravação de uma conversa do ministro Aloizio Mercadante, da Educação, com um assessor de Delcídio, propondo acerto para garantir o silêncio do senador, deixou a presidente acuada. Mercadante, claro, negou que tenha prometido benefícios a Delcídio para que ele desistisse da anunciada delação premiada. Confirmou o encontro com o assessor, mas alegou que houve montagem na gravação e omissão de trechos para desqualificar a denúncia que envolveria a presidente Dilma. Teve o cuidado de, na entrevista de tentativa de explicação, poupar a presidente e garantir que ela não teve qualquer participação em sua decisão de procurar o assessor de Delcídio para “prestar solidariedade ao senador”. Mercadante garantiu que permanece no governo, mesmo com o recado da presidente de que a decisão de procurar Delcídio foi um ato pessoal do ministro e que ela não tinha qualquer envolvimento no assunto. Traduzindo, o erro foi do ministro e ele que pague por seus atos. Mercadante não entendeu, ou se fez de desentendido, a presidente perdeu uma excelente oportunidade de dar ao seu governo ares de seriedade e de credibilidade, exonerando Mercadante, pelo menos até que tudo fique bem esclarecido. Mas os problemas da presidente, e de muitos outros políticos, estão apenas começando. A Procuradoria Geral da República já avalia a possibilidade de abrir investigações contra a presidente e muitos outros políticos, entre eles o vice presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves, que procuram desqualificar a delação de Amaral.
Desafetos
Os que conhecem o senador Delcídio Amaral e o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, consideraram no mínimo estranha a conversa do ministro com o assessor de Delcídio, José Eduardo Marzagão. Um sempre minou o espaço do outro. Delcídio teria, inclusive, trabalhado pela saída de Mercadante da Casa Civil. A preocupação do ministro para com o senador preso e sua família surpreendeu a todos, levantando dúvidas sobre quem poderia ter orientado o ministro a procurar o assessor de Delcídio e com que objetivo. Mesmo com Mercadante garantindo que não tentou impedir a delação do senador e isentando a presidente Dilma de ter orientado a sua conversa com Marzagão, ficou a dúvida. Ele, como não poderia deixar de ser, acusou o assessor de agir de má-fé. Pois é. Foi assim que Delcídio Amaral foi parar na cadeia, com a gravação do diálogo com o filho de Nestor Cerveró.
Justiça vai colocar frente a frente Aloízio Mercadante e Délio Malheiros
A Justiça Federal marcou para o dia 28 de abril a audiência de conciliação entre o ministro da Educação, Aloizio Mercadante (PT), e o vice-prefeito de Belo Horizonte, Délio Malheiros (PV). A sessão seria videoconferência, mas Malheiros decidiu ir à Brasília para confrontar o ministro, acusado por ele em um vídeo postado na internet, de pedir apoio de deputados do PSB contra o impeachment da presidente Dilma em troca da liberação de verbas para a capital mineira. Mercadante entrou na Justiça contra Délio Malheiros acusando-o de calúnia. Se Mercadante deixar o governo, o processo muda de foro.