Quantos brasileiros terão que ir às ruas para que o país mude. Quantos brasileiros precisarão protestar pacificamente para que nossas autoridades e, principalmente seus representantes no Congresso, entendam que a hora é de mudanças. Mudanças de métodos, de leis e, em alguns casos, de pessoas. Não somos um país jovem, como gostam de repetir alguns. O mundo hoje vive e se modifica em uma velocidade espantosa e a cada dia, cada ano, cada década que perdemos, nos colocando em posição irreversível em relação a outros países que conseguiram avançar. Precisamos nos modernizar para darmos velocidade e sustentabilidade ao nosso crescimento. E mudar implica que, primeiramente, acabarmos com a impunidade. Dizer que precisamos acabar com a corrupção é utopia que nenhum outro país atingiu. Temos corrupção e corruptos como todos os países têm. O que nos faz diferentes é que temos uma impunidade que ninguém tem. O grito das ruas de ontem foi para acabar com isto. O povo não quer, ao contrário do que insinuam os apoiadores do atual governo, punição seletiva. Não imaginem que o brasileiro deseja cultivar corruptos que possa chamar de seus. Quer sim punição para todos e, se hoje as investigações e os protestos apontam para um determinado grupo, é porque as provas e indícios contra este grupo se evidenciaram. Não foi assim que o PT agiu contra Collor? Não foi assim que agiram quando colocaram Fernando Henrique sob suspeita. Quem foi para as ruas ontem – os otimistas falam em milhões e os mais comedidos em dezenas de milhares- se dispunha a pressionar os políticos para que eles façam as mudanças necessárias. Não houve o espírito de beligerância, não houve vandalismo, não porque o povo não estivesse revoltado, com raiva mesmo, mas porque este povo já aprendeu que, na democracia, as mudanças não se processam pelas mãos do povo. Elas são feitas pelos seus representantes no Congresso. Ontem, em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin e o senador Aécio Neves chegaram a ser hostilizados e rotulados de oportunistas por manifestantes. Foi a forma que o cidadão encontrou para exigir que ambos se encaixem efetivamente na luta por mudanças, por reformas. É preciso mesmo que os políticos assumam seu papel. Entendam o recado que as ruas deram ontem. Que os da situação, meditem sob o recado e, se convencidos que se alinhem pelas mudanças ou que busquem argumentos capazes de convencer e sustentar seus posicionamentos. Ao juiz Sérgio Moro, o herói das ruas, recomenda-se cautela. Ontem ele divulgou nota em que agradeceu as manifestações de apoio ao seu trabalho e recomendou que os políticos as vozes das ruas. Neste momento, o que as ruas pedem a ele é que prossiga seu trabalho com a seriedade com que vem agindo até aqui. Que seja um herói no Judiciário. Até porque precisamos de heróis em todos os Poderes. Não apenas no Executivo que é aquele que mais fascina.