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Não somos o alvo. Antes do Brasil política de Trump deverá atingir vários outros países

Paulo César de Oliveira
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O discurso protecionista e nacionalista do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (foto), foi recebido com preocupação não só no México, país alvo dos ataques de Trump, mas em todas as potências mundiais. O México já começou a sentir os efeitos da fúria do novo presidente antes mesmo da sua posse, com a perda de investimentos do setor automotivo. O Brasil, que é um parceiro comercial importante para os norte americanos, está fora da linha de tiro, segundo o economista especialista na área internacional da Fiemg, Alexandre Brito. Mas em se tratando de Trump todo cuidado é pouco.

 

O que pode se esperar do governo de Donald Trump?

O Trump tinha um plano para ganhar a eleição e agora está construindo um plano para governar. Isso ficou muito claro. Ele fala uma coisa hoje e amanhã nega. O discurso nacionalista dele na posse, de que os Estados Unidos estão em primeiro lugar, é uma prova de que ele ainda não tem um plano de governo e que ainda não desceu do palanque. Mas tem alguns pontos importantes que temos que lembrar: o que ele fala não está no radar do partido dele, o Republicanos. O partido tem uma visão e muitas coisas que Trump fala e defende não tem eco no partido. O protecionismo comercial, a proteção do emprego dos americanos, por exemplo, no Partido Republicano o discurso central é na prática de negócios, na redução de entraves, de menor intervenção do Estado e redução de custos das empresas. O Partido Republicano é o partido dos negócios. Mas outros governos republicanos já adotaram o protecionismo, George Bush pai, já adotou nos anos 80, Ronald Reagan já teve arroubos de protecionismo, mas essa não é a tônica principal do partido. Outra coisa, é que o Trump é um personagem de Nova York, uma pessoa que conhece o mundo. Ele tem uma visão internacionalista. Ele tem uma formação cultural internacionalista. O que isso implica no governo dele, é difícil saber com clareza.

 

Mas ele tem posições firmes em relação a política internacional.

Ele tem posições claras em relação a rejeição ao acordo climático. Acredito que ele vai levar essa questão adiante, porque ele tem apoiadores importantes na indústria do petróleo, além de ter uma visão muito clara de que não há aquecimento global. Ele é muito crítico em relação a essa questão. A pessoa que ele nomeou para a Secretaria de Energia é um executivo, que tem uma visão contra o discurso do aquecimento global e essa será uma questão que os Estados Unidos devem fazer muita pressão.

 

Em relação ao Brasil?

Não muda nada. Eu não acredito em nenhuma mudança. Deve haver algum arroubo protecionista sim. Mas antes do Brasil tem outros alvos, que devem ficar mais preocupados, que são o México e a China.

 

Tem empresários que acreditam na possibilidade de o Brasil se beneficiar se Trump investir em infraestrutura.

Não acredito muito nisto, porque a indústria siderúrgica brasileira pode sofrer pressão. Uma indústria que foi alvo no passado, é alvo no presente e pode ser no futuro. Mas é bom lembrar que a economia cresceu com Obama também, o desemprego caiu, no entanto, os juros estão muito baixos e isso acabou não deixando a economia crescer tanto e é uma questão estrutural que eles terão que resolver. O Federal Reserve tem uma estratégia de aumentar os juros. Mas se houver um aumento de juros nos Estados Unidos, essa decisão pode impactar no aumento dos gastos públicos. É bom lembrar que esse aumento de gastos é de fomento a empresas americanas e não de outros países. Acredito que em relação ao Brasil não vai mudar nada, nem para melhor, nem para pior. Se a economia americana crescer, nós vamos vender mais. Mas não acredito em um crescimento grande nos próximos anos.

 

Quais produtos nós vendemos mais para os Estados Unidos?

Produtos siderúrgicos, semifaturados, produtos químicos, automotivos, autopeças, motores, equipamentos em geral, café e começando a acelerar as exportações de carne. Os EUA são um mercado importante para nós porque eles compram nossos produtos industrializados e semi industrializados. É o segundo mercado das nossas exportações. O Brasil não tem sido alvo direto dos americanos e é um parceiro comercial importante e não está na linha de tiro, como é o caso do México.

 

Para o México, como será essa relação?

Serão meses de ansiedade para o México. Com a China será diferente. O Trump falou no México o tempo todo, em levar as indústrias para o outro lado da fronteira e isso já está acontecendo. A indústria automotiva cancelou alguns investimentos no México e está transferindo para os Estados Unidos. O México vai enfrentar alguns problemas. É bom lembrar que o mundo em Washington é diferente do das campanhas eleitorais, uma outra realidade. Pode ocorrer um certo isolacionismo, olhar mais para os Estados Unidos, que, no entanto, é uma potência mundial e é preciso manter a hegemonia mundial.

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