“Desgraça quando é pouco assusta, quando é muita a gente acostuma”, diziam os mais velhos. Pesada, mas verdadeira a afirmativa. Chegamos, e já ultrapassamos as seiscentas mil mortes pela covid-19 com um silêncio ensurdecedor da maioria e a reação de indignação de alguns poucos. Assusta ver como perdemos a nossa capacidade de nos indignarmos diante da morte e do sofrimento de tantos. Somos, ou estamos, tão passivos que nem nos damos conta de uma outra tragédia que já se faz presente na vida de todos nós e que um dia, ousamos imaginar que não enfrentaríamos mais: a inflação é uma realidade no país. E com ela o aumento da miséria, da fome do povo. Fingimos não ver. Nos acomodamos diante de uma realidade que se consolida a cada dia, a cada minuto, sem que haja uma ação efetiva do governo – leiam Bolsonaro- não para corrigir numa canetada o problema, mas para liderar uma reação estruturada, capaz de recolocar o país nos trilhos. Assistimos, incapazes de nos sensibilizarmos, o aumento de pessoas morando nas ruas. De mães vendendo bugigangas nos semáforos, enquanto seus filhos ficam sentadas nas calçadas, sem o direito de serem crianças. Famílias buscando nos lixos a sua sobrevivência. Fechamos os olhos à desgraça dos outros e contemos nossa reação ao descalabro da escalada de preços de todo tipo de produto. Temos sim uma inflação descontrolada cujo controle, não se iludam, não se dará da noite para o dia. A inflação estimula a especulação e os especuladores sabem muito bem como se aproveitar da tibieza e incompetência dos governantes. Que não culpem a pandemia por todos os nossos males. Parte de nossos problemas, reconheçamos, como em todo o mundo, é sim consequência da pandemia e das medidas adotadas para controla-la. Parte. O resto é resultado de nossa incompetência e da nossa inconsequência em armarmos palanque de reeleição antes da hora. Que cada um assuma sua responsabilidade, inclusive nós, cidadãos comuns. Lembrem-se que nossa inércia dá causa aos nossos problemas. (Foto reprodução internet)