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O jeito simplista do ministro Barros de analisar o caos da saúde

Paulo César de Oliveira
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O ministro da Saúde, Ricardo Barros (foto) descobriu, em poucos dias no cargo, os culpados pelo caos no sistema de saúde do Brasil. Para ele, são os pacientes que, em sua maioria, procuram as unidades de atendimento imaginando que estão doentes e só se consideram bem atendidos se o médico pede uma bateria de exames. A coisa funciona mais ou menos assim, na cabeça do ministro: o cidadão, beneficiário do SUS, está em casa, sem nada para fazer, imagina uma doença, quem sabe um resfriado, uma alergia ou um câncer, e vai para a fila do SUS, de madrugada, esperar o atendimento. Fica por lá batendo papo até que o médico o manda entrar no consultório. Entra, tem dez ou quinze minutos para falar, o médico, por desconhecimento ou pressa – afinal a fila está enorme e ele ganha pouco- saca do bloquinho, pede um monte de exames e despacha o coitado. Aí, o usuário, imaginando-se doente, entra em outra fila para conseguir marcar os exames. Dependendo do tipo do exame, espera alguns meses, tempo suficiente para descobrir que tudo era imaginação sua e, por isso, desistir de buscar os resultados. Então, oitenta por centro dos exames solicitados não são sequer buscados nos laboratórios.

Em parte, é preciso concordar, ele não está errado. O brasileiro, e aí o vício é geral, mede a capacidade do médico pelo número de exames que ele pede. Quanto mais sofisticados os exames, mais competente, na cabeça do paciente, o doutor é. Mas este vício, senhor ministro, tem razões que precisam ser melhor analisadas. Uma delas é o excesso de paciente que cada médico atende – ou o pouco tempo que eles ficam nos postos de trabalho- que impede que, conversando, examinando, o médico tenha condições de fazer um diagnóstico, sem recorrer a exames. Em outras situações acredite ministro, é a má formação profissional do médico que o impede de fazer diagnósticos sem exames. Exames, que, não raramente, nem sabe interpretar direito.

A má qualidade do atendimento leva sim ao desperdício de recursos. Um recurso que já é extremamente escasso. No Brasil os governos, em seus três níveis, investiram R$ 3,85 per capita/dia em atendimento de saúde. O setor público no Brasil, ministro, investiu em 2013, US$ 523 per capita, em tudo o que se chama de saúde, o que representa 70% da média de investimentos dos países das Américas. É quase nada, é muito pouco. Talvez Ricardo Barros esteja ainda na primeira página do livro sobre as mazelas da saúde brasileira. Há ainda muito o quê aprender, como a remuneração de procedimentos médicos, a maioria não cobrindo nem os custos. A falta de revisão da tabela do SUS, em alguns pontos, há vários anos. O pagamento de R$ 10,00 pela consulta de um pedido de exames. E também a falta de repasse dos recursos para estados e municípios, deixando hospitais sem receber pelos serviços que prestaram. Por causa disto, mais de 20 mil leitos foram fechados no país e milhares de cirurgias eletivas estão sendo suspensas, enquanto hospitais filantrópicos se enterram em dívidas bancárias que nunca pagarão. Como pode ver o ministro, são muitas as fontes de desperdício de dinheiro. Certamente o usuário do SUS de imaginação fértil não é o único culpado. Podem até estar pagando salário para quem não sabe nada sobre o assunto, comandar o setor.

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