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O longo e tumultuado processo do impeachment

Paulo César de Oliveira
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Com a leitura do comunicado de recebimento da autorização da Câmara dos Deputados, feita pelo primeiro secretário da Casa, Vicentinho Alves, do PR de Tocantins, o Senado deu início ontem à tramitação do processo de impeachment da presidente Dilma. Uma tramitação que, pelo visto, será longa e tumultuada. Longa pela disposição manifestada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (foto), de ser o mais lento e formal possível. Ele não demonstrou ontem, em entrevista, qualquer preocupação com possíveis perdas para o país que um processo arrastado pode trazer. Ele disse que não se presta ao papel de acelerar prazos, numa crítica direta ao andamento do processo na Câmara pois não está preocupado em gerar noticiários, mas em cumprir um papel histórico. Tumultuado o trâmite será pela disposição demonstrada ontem pelos petistas de gerar fatos que possam atrasar o andamento. Isto ficou evidenciado na primeira reunião das lideranças dos partidos para tratar da formação da comissão especial que dará o primeiro parecer pela admissibilidade do processo. O PT se recusou a apresentar os nomes que indicará para a comissão que terá 21 membros, entre titulares e suplentes. Só fará isto no prazo fatal, às 18 horas de sexta-feira. O bloco formado por PSDB e DEM indicou logo os senadores Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), Antônio Anastasia (PSDB-MG), Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) e Ronaldo Caiado (DEM-GO). O bloco que reúne PTB,o PR e PSC indicou os senadores Wellington Fagundes (PR-MT) e Zezé Perrela (PTB-MG) como titulares. Com a decisão dos petistas de não indicarem logo os seus representantes, Renan Calheiros decidiu marcar para a próxima segunda-feira, a primeira reunião da comissão. E já avisou que se até lá não houver as indicações ele mesmo escolherá os nomes da comissão que terá o mineiro Antonio Anastasia como relator ou presidente. Já pressentido pressões, Renan Calheiros avisou que pensa em convidar o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandovski, para presidir as reuniões do Senado caso haja a admissibilidade do processo, o que obrigará a presidente Dilma a se afastar do governo. Lewandovski, pelo ritual do processo, teria mesmo que presidir a reunião final de votação em Plenário, mas, de aceitar o convite de Renan, assume antecipadamente o comando do processo. De olho no que acontece no Senado, mas envolvida na movimentação em defesa de seu mandato, a presidente Dilma teve um novo encontro com jornalistas ontem. Desta vez foi com representantes da imprensa estrangeira quando reafirmou inocência, lembrou que foi presa e torturada na luta contra a ditadura militar e, dentro do roteiro, atacou Michel Temer e Eduardo Cunha, não reconhecendo legitimidade no primeiro para assumir o cargo de presidente e falta de legitimidade moral no segundo para conduzir o processo de seu impedimento. Para ela, os dois são conspiradores que “estão vendo terreno na lua” para o povo, tocando um processo que, na sua opinião, não tem sustentação legal. Dilma atribuiu o comportamento da população e dos parlamentares em relação a seu impeachment a uma suposta “veia golpista” do povo brasileiro, lembrando que houve tentativa de impedimento dos últimos presidentes do país. Apesar de ser novamente acusado por Dilma, o vice Michel Temer preferiu o silêncio, diz que não falará sobre o assunto enquanto não houver uma decisão do Senado. Enquanto o vice se recolhia em silêncio estratégico, a presidente terminava o dia ouvindo músicas, cantadas por um grupo de mulheres à frente do Palácio do Planalto. O grupo estimado de 400 mulheres foi para a manifestação contra o impeachment levando rosas. Dilma recebeu vinte delas que manifestaram apoio e lhe entregaram as flores. Hoje será mais um dia de espinhos para a presidente em sua tentativa de barrar o processo contra ela.

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