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O novo tem a cara do velho

Paulo César de Oliveira
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Os que tinham confiança nas mudanças prometidas e, com base na esperança de que elas iriam mesmo acontecer, escolheram seus representantes nas urnas, devem estar, no mínimo receosos de novamente, terem sido enganados pelo canto da sereia. Outros já têm certeza que nada do anunciado vai acontecer. O final de semana foi de confirmação: nada de novo acontecerá, pois, o novato não significa o novo. As eleições para a escolha dos presidentes do Senado e da Câmara Federal foram uma afirmação categórica de que a velha política tem um charme irresistível e a confirmação de que não será com o que elegemos que vamos reformar o país. Na Câmara o velho foi pelo menos mais discreto na conduta, embora explícito no recado sobre quem manda lá. O Senado, não. Foi um vexame. Coisa de assustar. Rasteiras como não se viu nem durante o regime militar. Uma velhacaria incomum, até mesmo em eleições para escolha de lideranças de certas organizações. E pior, um total desconhecimento de regras e princípios democráticos, que levou um senador a propor que fosse desobedecida determinação judicial em nome da independência do Legislativo. Tudo bem que se buscava impedir nova ascensão de Renan Calheiros, eleito símbolo maior da velhacaria política, mas não se pode, na política, brincar com coisa séria. O casuísmo, em nome de qualquer causa, não pode ser aceito. Afinal, porteira por onde passa um boi, passa uma boiada e abrir precedentes, passando por cima de regras, é arriscado. Infelizmente começamos mal e nada indica que temos condições de melhorar. O novo foi apenas um discurso de quem, na política, não sabe distinguir um pé de couve de uma bananeira. Chegar ao novo não é coisa que se consiga sobre um palanque. Exige transformações não apenas do político, mas, principalmente do eleitor. Conta-se que Mahatma Gandhi, falando a um grupo composto por castas e subcastas da Índia, pregava a harmonia e a não violência entre eles, como forma de fortalecer o movimento pela independência do país. Sua fala foi várias vezes interrompida por aplausos entusiasmados, quase levando-o a crer que seu discurso era aceito. Ao final, Gandhi verificou que seu público deixava o local sem se misturar, cada qual junto a seu grupo. Desapontado, o líder pacifista comentou com um auxiliar. “Veja, aplaudem-me as palavras, mas retornam fiéis aos velhos hábitos”. São assim nossos políticos. Nos palanques, discursos inflamados a propor e exigir mudanças. Quando se juntam em plenários, revelam todo o seu misoneismo, a aversão, oposição a tudo que é novo.

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