Os anos eram 1964, início de 65, e o Brasil ainda vivia um período de caça às bruxas. Quem usava camisa vermelha podia ser taxado de comunista, preso e levado a interrogatórios de, por mais que se negue, alguns nunca voltaram. Era o terror imposto pelos radicais, entre eles grupos civis que se julgavam sócios do Poder, com direito a ações armadas contra aqueles que nomeavam inimigos da revolução. Eram os fanáticos do Comando de Caça aos Comunistas-CCC, que usavam da truculência contra os supostos inimigos. Arbitrários e arrogantes, seus membros se julgavam no direito de fazer o que chamavam de justiça contra os “inimigos da pátria”. Agiram livremente, com apoio de militares e autoridades da repressão política. Foram livres até que, certos da impunidade e de que eram intocáveis por serem amigos dos donos do Poder, começaram a extrapolar. A usar a capa da ação política contra inimigos pessoais e até credores, denunciados como “subversivos” às autoridades. Estas ações despertaram a atenção de alguns que sentiram o risco de continuar alimentando o ódio e a esperteza destes amigos do Poder. Sentiram que não poderiam confiar em amadores aproveitadores que, sabiam, não hesitariam em servir novos senhores em caso de mudanças no golpe. Um risco a ser considerado num momento em que, apesar da liderança real do presidente Castelo Branco – ele e o General Geisel foram lideranças incontestes- grupos militares chegaram a ensaiar um golpe dentro do golpe para radicalizar o movimento. Abandonar os amadores e profissionalizar a repressão foi o caminho encontrado à época. Lembro esta parte de nossa história para reafirmar a verdade de uma máxima política: não se governa com os exaltados. Eles servem, para ajudar a vencer uma eleição, mas são maus companheiros no exercício do Poder. Mas nem por isso devem ser desprezados. Ao contrário. São forças a serem lideradas por quem tenha ponderação para tal. Alimentar a radicalização, o ódio pelo ódio sem qualquer razão, nunca foi nem nunca será um bom caminho. O mundo está cheio de exemplos de que radicalizar alimenta o surgimento de forças contrárias que, não raramente, atraem quem pensávamos ser aliados fieis. O aumento da radicalização passa a ser uma preocupação a mais na política. A disputa municipal, por enquanto mantida para este ano, deverá levar este clima de intolerância para as cidades menores. Vamos disseminar, com a colaboração das redes sociais hoje habilmente manipuladas, a intolerância política, já preparando o palanque para a sucessão presidencial daqui a dois anos. O país, que precisa de paz – o consenso já parece impossível- para se recuperar das crises que vive hoje, suportará este ambiente de confronto que, teimosamente, os radicais tentam manter? É preciso um pouco mais de amor à pátria. Não basta carregar a bandeira nacional às costas. O Brasil precisa de muito mais do que patriotismo teatral.