Subimos no palanque cedo demais. Sem uma base política minimamente confiável, sem um plano de governo, Bolsonaro via sua popularidade derreter na medida em que os problemas no país se agravavam. Abraçar o populismo, algo tão natural nas repúblicas- antes eram republiquetas- latino-americanas, foi o caminho natural e isto, ninguém pode negar, ele faz com competência. Com um discurso fácil, capaz de impulsionar os mais fanáticos, aqueles que o chamam de “mito” sem uma razão que justifique a denominação, o presidente, como outros de países vizinhos sabe falar no ouvido certo daqueles que buscam um “paizão”, velha mania de nós brasileiros. Com discurso, mesmo que totalmente inconsequente, o presidente soube sensibilizar o povo mais carente, criando uma ajuda financeira num momento em que ela, reconheçamos, era absolutamente necessária. Seguindo o receituário que dizia combater, buscou votos onde não tinha e lidera pesquisas para a reeleição. Com a popularidade em alta e algumas liberações de verbas e cargos, o presidente conseguiu criar o que não tinha: uma base política que poderá ajudá-lo a aprovar algumas propostas que atendam os interesses de outra vertente de seu apoio, os investidores. Para o presidente as coisas parecem ajustadas. Parecem. Mas a que preço? Outra dúvida: ele terá condições de manter esta estrutura pelo tempo necessário para garantir chegar, em 2022, em condições de conquistar aquilo que é seu objetivo desde sempre, a reeleição? O custo de permanência por tanto tempo sobre o palanque será, com certeza, muito elevado. Mas não será apenas financeiro. O político não será menor. Bolsonaro, por mais que tente negar, não terá como ficar distante das eleições municipais. Terá que abraçar candidaturas, como já começa a fazer em São Paulo, para derrotar e minar as bases de possíveis adversários em 2022. Derrotar Covas é o caminho para corroer a base de Doria, um provável e forte adversário na disputa presidencial daqui a dois anos. O presidente está apenas começando uma batalha em que inevitavelmente, terá que abater alguns, muitos talvez, de seus atuais aliados. Paulo Guedes, é o mais notório exemplo. A não ser, claro, que o ministro, que já foi o “Posto Ipiranga”, aceite ser transformado em São Jorge de Bordel. Esta aventura do presidente sobre o palanque, por tanto tempo, terá, claro, reflexo, sobre governadores. Eles também terão que entrar no clima das eleições desde já, buscando formar base política. Queiram ou não, os governadores serão cobrados para ajudarem a eleger prefeitos alinhados com os parlamentares de sua base. Mas o problema deles é ainda mais grave. Ajudar como, se não têm dinheiro nem para pagar o funcionalismo? Em Minas já está sendo criada uma renda mensal de R$ 39,00 para os mais carentes. Pouco? Sim, mas serve como esperança para os beneficiários de que poderá ser elevada, caso os resultados políticos sejam os esperados. É assim que o jogo é jogado.