Bem, ficou mesmo para agosto, com dia marcado, 6, a votação em segundo turno da reforma da Previdência. Não que não houvesse tempo para a Câmara Federal decidir o assunto agora. Ao contrário. Pelo calendário legislativo, recesso mesmo só a partir do final desta semana, tanto que há até uma pauta, cheia de reuniões e até de votações programadas, mas faltam deputados e, mais do que tudo, sobram razões políticas ocultas para acabar com a discussão rapidamente. Uma destas razões, ao que parece, é a falta de interesse de Rodrigo Maia (foto) em encerrar a votação. Já falado como possível candidato à presidência da República, ele abriu guerra com o presidente, acusando o governo de não ter base legislativa e de se relacionar mal com os parlamentares. Ao votar a reforma ainda no primeiro semestre, quando a maioria duvidava, Maia mostrou força e habilidade política. Ao deixar para agosto o segundo turno de votação na Câmara, mostrou ao governo que o tempo é do Legislativo e, na Câmara, o tempo é o do seu desejo e conveniência. Recado passado, o deputado garante os holofotes no retorno do recesso e ainda tempo para armar o palco da reforma tributária que estará funcionando ao lado do palco da Previdência no Senado. Senado que, aliás, já entrou em recesso formalmente, desrespeitando o que determina a Constituição, que prevê o recesso do meio do ano apenas após a aprovação da LDO. Com os senadores de férias, não há como votar a Lei de Diretrizes Orçamentárias pois a pauta é conjunta. A esticada do prazo até agosto tem outra conveniência: dá tempo ao governo para liberar mais emendas.Com coordenação política capenga e bagunçada, como admitem até mesmo os bolsonaristas mais ferrenhos, o governo teve que apelar para o velho costume da liberação de emendas- nunca se liberou tanto em tão pouco tempo- que deve continuar no segundo turno, pois muitos parlamentares ficaram de fora das benesses e cobram aquilo que consideram seus direitos. E o governo já caiu na real e aprendeu que, em alguns momentos o melhor mesmo é adotar a tática do que, no palanque eleitoral, rotulou como “velha política”. Mas a batalha pela reforma da Previdência ainda vai longe. Quando chegar ao Senado, os sinais são de que sofrerá mudança, com a inclusão de estados e municípios. A Câmara preferiu excluir os servidores estaduais e municipais do texto da reforma, evitando desgastes políticos. Se a pressão dos governadores e dos prefeitos sobre a Câmara não foi suficiente para reverter o quadro, o campo no Senado se mostra menos árido. O relator da matéria será Tasso Jereissati, do Ceará, que já foi governador e conhece bem as dificuldades dos estados com os gastos dos aposentados. Ele já sinalizou que é favorável à mudança para a inclusão. Melhor para os governadores e prefeitos que poderão ficar livres do debate indigesto em período de eleição municipal. Mas é bom lembrar que, modificada, a reforma volta à Câmara. E aí ninguém sabe qual será o custo da aprovação da mudança.