A Comissão Especial do Impeachment vota hoje, em reunião com início marcado para as 10 horas, o relatório do senador Antonio Anastasia pela admissibilidade do processo. Ontem foi outro dia de sessão tumultuada, com a participação do Advogado Geral da União, José Eduardo Cardoso, que fez a contradita do relatório, rebatendo as acusações contra a presidente. Cardozo, em alguns momentos, foi duro nas críticas ao trabalho de Anastasia mas retirou-se logo após a sua fala, sem esperar a réplica de Anastasia, que rebateu ponto por ponto a defesa. O chefe da AGU usou a maior parte de seu tempo- 60 minutos- em pregação pela nulidade do processo que, para ele, só foi colocado em tramitação por vingança de Eduardo Cunha que não teve o apoio do PT no Conselho de Ética, onde está sendo julgado por quebra de decoro. Cardozo aproveitou a liminar concedida, pela manhã, pelo ministro Teori Zavascki, que determina o afastamento de Cunha da presidência da Câmara e a suspensão de seu mandato parlamentar sob a acusação de que ele, no cargo e no exercício do mandato, tem agido para atrapalhar o andamento da Operação Lava Jato. Para os apoiadores de Dilma, as acusações contra Cunha – ratificadas posteriormente por unanimidade do Pleno do STF, que manteve as punições impostas por Teori- são suficientes para sustentar a nulidade de todo o processo de impeachment até aqui. Se sucesso na comissão, que rejeitou a sua proposta de suspender o processo, Cardozo avisou que recorreria à mesa do Senado, não descartando nem mesmo ir ao Supremo pedindo a suspensão do processo, alegando nulidade dos atos práticos por Eduardo Cunha como presidente da Câmara dos Deputados. Mas as discussões na Comissão no Senado, acabaram virando assunto secundário em Brasília. Os políticos, normalmente em pequeno número na cidade na quinta-feira, foram pegos de surpresa com a decisão liminar do Supremo de afastar Cunha. Houve um intenso debate durante todo o dia sobre a competência do STF para suspender o mandato de parlamentares mas, no final da tarde, por onze votos a zero, o tribunal decidiu que Eduardo Cunha (foto) terá que se afastar até o julgamento final de seus processos. Ainda mais intenso do que o debate pela legalidade do afastamento, foi o que se travou pela sua oportunidade. Como sempre acontece no meio político, não faltaram especulações sobre as razões do ministro Teori para tirar de sua gaveta um pedido da Procuradoria Geral da União, feito em dezembro passado, para o afastamento do deputado. A liminar concedida bem no início da manhã, num despacho de 76 páginas, atropelou a pauta do STF. É que na quarta-feira o presidente do tribunal, ministro Ricardo Lewandowski mandou colocar na pauta de ontem uma ação do partido Rede, de Marina Silva, que também pedia o afastamento de Cunha, mas não falava em suspensão de mandato. A ligeireza de Lewandowski em colocar na pauta esta ação, que poderia beneficiar o governo é que, segundo as especulações, teria provocado a reação de Teori Zavascki. Seja qual forem as razões, o afastamento acabou agradando a presidente Dilma que, ainda pela manhã, manifestou sua alegria. “Hoje, antes de sair de Brasília, soube que o Supremo Tribunal Federal tinha afastado o senhor Eduardo Cunha alegando que ele estava usando seu cargo para fazer pressões, chantagens. A única coisa que eu lamento, mas eu falo antes tarde do que nunca, é que infelizmente ele conseguiu e, vocês assistiram, ele presidindo na cara de pau o lamentável processo [de impeachment] na Câmara”, afirmou Dilma, durante a cerimônia de início da operação comercial da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, em Vitória do Xingu, no Pará. Cunha, bem ao contrário, se disse injustiçado e perseguido anunciando, como tem feito a presidente Dilma, que não renunciará ao mandato e que lutará para provar sua inocência. Mas o fato de hoje é a votação do relatório que propõe a admissibilidade do impeachment. Para ser aprovado, são necessários onze dos vinte e um votos da comissão. Há quem assegure que o resultado final será dezesseis a cinco pela aprovação.
Tchau querido
O afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara Federal liderou, durante todo o dia o trends tropics do twitter, rendeu uma série de piadas e memes na internet e foi comemorado em alguns lugares como se fosse um gol em um campeonato de futebol. Logo após receber o comunicado começaram a circular fotos de Cunha com as palavras “tchau querido”, a mesma despedida feita à presidente Dilma. Para muitos, esse foi um presente de despedida do STF para a presidente Dilma Rousseff, que reagiu à notícia com um “antes tarde do que nunca”. Para amigos, assim com Dilma, Eduardo Cunha disse que está sendo vítima de um golpe e mais uma vez repetindo Dilma, afirma que não renuncia.
Apoio
Mesmo afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha recebeu o apoio de alguns parlamentares e no final da tarde de ontem, oito partidos assinaram uma nota em sua defesa: PMDB, PR, PP, PSC, PTB, PTN, PSD e SD.
Sucessão
Com o afastamento de Cunha, assume a presidência da Câmara o deputado Waldir Maranhão, vice-presidente da Casa e um dos 32 integrantes do PP investigados na Lava Jato. Conforme o regimento interno da Casa (§2º art. 8º), Maranhão deverá ficar no comando por apenas cinco sessões legislativas, depois será convocada eleição para escolha do novo presidente.
Ameaça velada
O afastamento de Cunha é bom para Temer? A resposta não é tão simples assim, pois Cunha vai querer testar seu velho amigo, em busca de sinais através de nomeações. Se Cunha se sentir traído e sem alternativas, vai ser um Deus nos acuda…