Difícil saber qual ato foi mais importante para o país. Se a decretação da prisão de um senador pelo STF, ou a do Senado, podendo ter revogado a prisão, mantê-la por uma larga margem de votos que não vieram apenas da oposição, mas de muitos da situação. As duas decisões abrem precedentes importantes na vida política brasileira, e a dos senadores de, contrariando o presidente da Casa, Renan Calheiros, de adotar o voto aberto na análise da questão, cria uma jurisprudência importante, considerando que, pelo andar da carruagem, outros senadores e deputados, logo, logo, poderão ter prisão decretada no âmbito da Lava Jato. O país se assustou ontem logo pela manhã, com o anúncio da prisão do senador Delcídio Amaral (foto), líder do governo no Senado, e do banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, um dos mais importantes bancos de investimento do país. Ambos acusados de, com ajuda de assessores também presos, tentarem impedir que Cerveró assinasse o acordo de delação premiada. O crime deles foi tentar atrapalhar as investigações da Lava Jato. A prisão do senador, que está no exercício do mandato, foi a que mais assustou. A do banqueiro nem tanto, pois já há outros presos, em outras operações. Os mais céticos poderão até dizer que o STF mandou prender Delcídio Amaral muito mais por suas afirmativas de que poderia exercer influência sobre alguns ministros do que, propriamente, por tentar corromper o já corrupto Cerveró, para que ele não falasse nada em seus depoimentos e que, tendo oportunidade, fugir do país. Pode ser, mas o fato é que os ministros reagiram e usaram a lei para mandar um famoso senador para trás das grades. Dos votos que ratificaram a decisão do ministro Teori Zavascki, em sessão convocada às pressas ontem pela manhã, o mais contundente, sem dúvidas, foi da ministra Cármem Lúcia, que chegou ao cargo nomeada por Lula, mas com indicação e apadrinhamento de Itamar Franco. “Na história recente da nossa pátria, a sociedade acreditou que uma esperança tinha vencido o medo. Na ação penal 470 (mensalão) vimos que o cinismo tinha vencido aquela esperança. Agora parece que o escárnio venceu o cinismo. Uma instituição séria da República, como o Senado, que já acolheu figuras como Rui Barbosa (…), não pode de qualquer forma ser comprometida por condutas absolutamente imorais de pessoas que não sabem honrar a República, que não toleram a democracia e que não respeitam os cidadãos brasileiros. A decisão (de prender Delcídio) não confunde imunidade com impunidade”, disse a ministra, bem ao estilo de seu padrinho. Contrastando com a coragem da ministra, a covardia do Diretório Nacional do PT que, em nota oficial, negou solidariedade ao seu senador. Quase disse não conhecê-lo. Este posicionamento do partido, no entanto, era esperado. Por querer se livrar de mais uma prova de seu envolvimento nos escândalos da Petrobras e, principalmente, pelo desejo de vingar-se de Delcídio que presidiu a CPI dos Correios, origem do processo do mensalão, negando-se a aceitar as rédeas que o PT tentou colocar na comissão. À época agiu com independência e recebeu o troco agora. A mesma coragem do STF foi demonstrada pelo Senado que, certamente contra os interesses de muitos de seus membros, decidiu manter um dos seus preso, o que, certamente, sinaliza que vai cassar o mandato do petista quando esta questão estiver em pauta. Na votação aberta os senadores manter com 52 votos a favor e 13 contra, a decisão do Supremo. Dos que votaram contra, sete são investigados na operação Lava Jato: Fernando Collor (PTB-AL), Benedito de Lira (PP-PI), os peemedebistas Edison Lobão (MA) e Valdir Raupp (RO), os petistas Gleisi Hoffmann (PR), Lindbergh Farias (RJ) e Humberto Costa (PE). Ao menos tiveram a coragem de colocar a cara de fora, assumindo que votavam conforme seus interesses futuros. Agora é aguardar os desdobramentos. E torcer para que o posicionamento de ontem dos senadores não seja apenas um ato de arrobo juvenil. Mas um ato consciente de homens e mulheres que têm o dever de ser o equilíbrio do Legislativo.