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Só com Lula presidente não se resolve a crise

Paulo César de Oliveira
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A instabilidade política no país afeta diretamente a economia e, a cada dia, fica mais difícil fazer com que haja uma reação. Para o ex-ministro Paulo Paiva (foto), o presidente Lula, assumindo cargo na equipe de governo da presidente Dilma, poderia melhorar um pouco a situação até 2018, mas os problemas certamente continuariam porque a instabilidade política continua e os estragos são cada vez maiores. Mas com as mudanças cada vez mais rápidas no país, fica difícil fazer qualquer prognóstico.

 

Os protestos que estão acontecendo em todo, Brasil podem alterar os rumos do país?

Em 2013 você tinha uma manifestação que com objetivos variados, quase um cardápio de restaurante. A última, do domingo passado, teve o foco muito claro, em que o PT, Lula e Dilma simbolizam, personificam o que está por trás disso, que é uma insatisfação com a estrutura política, principalmente em relação aos Poderes Executivo e Legislativo. Tanto que, do outro lado, tem o apoio ao Poder Judiciário. Isso porque as soluções que terão que ocorrer virão pelas vias institucionais, no Poder Legislativo, no Poder Judiciário e pela estrutura partidária. Qualquer reação do governo, certamente, não terá o apoio dessas pessoas que estão nas ruas. Falta criar uma ponte entre a voz das ruas e a estrutura política. No Congresso, nas duas casas os presidentes estão também sendo objeto de investigação do Judiciário. Nós estamos em uma situação de judicialização política no Brasil, que não é uma coisa muito agradável.

 

A reação da presidente Dilma?

Não gostaria de centrar na presidente Dilma porque eu acho que o problema é muito mais profundo. É um impasse na estrutura política do país e a economia vai pagando o preço.

 

Até quando o país aguenta viver uma situação como esta?

Não sei. Já vivi várias crises, mas nunca uma com essa dimensão. Nós temos uma crise política, a mais grave de toda a história que temos registro no país. Uma crise muito mais grave do que a de 1930, do ponto de vista do crescimento da economia. No ano passado, a economia caiu 3,8%, a renda per capita caiu 4,5%. Este ano provavelmente pode cair mais 4,5 ou um pouco mais do que isto. A renda per capita cair quase 10% em dois anos é algo grave. É um desastre para a economia e a solução para isto passa por reformas, medidas que são duras, que têm custo e que precisam de suporte político, porque passa pelo Congresso Nacional, e de apoio da população. Nós não temos um programa.

 

E nem o apoio dos parlamentares e da população?

O governo não tem capacidade de apresentar um programa para solucionar essa situação. Nós vivemos 1994 uma crise econômica muito grave. Mais grave do que esta nas suas raízes, mas nós tivemos capacidade e uma organização política e comunicação com a sociedade. A sociedade aceitou um programa que foi doloroso, complexo, com uma moeda virtual, que foi a URV e conseguiu sair depois de um tempo.

 

O impeachment é a melhor saída?

Não há solução milagrosa. Nenhuma dessas soluções resolve a economia em curto prazo. A solução política precisa passar por um entendimento das lideranças políticas, que envolve os partidos de oposição, o PMDB e setores do PT. O conflito e a ruptura não são bons para o país.

 

O cenário daqui para frente será difícil de qualquer maneira?

Acho que é necessário muita conversa e muita construção de pontes. O momento não é de destruir pontes. É de construí-las, fazendo concessão de um lado e de outro. Nós temos em cima disso, em curso, um processo de investigação que não para na prisão do Lula, vai continuar até limpar o sistema político.

 

A ida do presidente Lula para a Casa Civil muda alguma coisa?

Por incrível que pareça, o ideal seria o Lula lá desde o início do governo dela. Ele tem uma competência de articulação, de negociação para ajudá-la nesse processo. Mas ele está sob investigação e isso dificulta. Se ele, no papel de primeiro ministro, articulasse os partidos políticos, talvez a saída fosse menos dolorosa para preparar uma ponte para 2018. Mas está tudo muito difícil.

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