Em nota enviada aos servidores da Polícia Federal, o diretor-geral da corporação, Fernando Segóvia (foto), negou que tenha previsto o arquivamento de um inquérito que investiga o presidente Michel Temer, durante entrevista concedida à imprensa nessa sexta-feira. No comunicado aos colegas, Segóvia afirma que as investigações contam com “autonomia e isenção” e disse que confia nas equipes da PF. A afirmação de Segóvia é uma resposta ao ministro Luís Roberto Barroso, que nesse sábado determinou a intimação do diretor-geral após as declarações dadas à Agência Reuters. Na entrevista, o delegado disse que os “indícios são muito frágeis” e sugere que o inquérito “pode até concluir que não houve crime”. De acordo com a assessoria da Polícia Federal, Segóvia “responderá diretamente” a Barroso sobre o assunto na próxima quarta-feira.” Afirmo que, em momento algum, disse à imprensa que o inquérito será arquivado. Reafirmo minha confiança nas equipes que cumprem com independência as mais diversas missões. É meu compromisso na gestão da PF resguardar os princípios republicanos. Asseguro a todos os colegas e à sociedade que estou vigilante com a qualidade das investigações que a Polícia Federal realiza, sempre em respeito ao legado de atuações imparciais que caracterizam a PF ao longo de sua história”, disse Segóvia no comunicado. O diretor-geral afirma ainda que, na entrevista, disse que o inquérito é conduzido pela equipe “com toda autonomia e isenção”.
Barroso fala em crime
Temer é investigado por corrupção ativa, passiva e lavagem de dinheiro por ter, supostamente, recebido vantagens indevidas de uma empresa para editar o chamado Decreto dos Portos. Na intimação também divulgada nesse sábado, o ministro Barroso afirma que a investigação não foi concluída e ainda há “diversas diligências pendentes”, e por isso o assunto não deveria ser “objeto de comentários públicos”. Ele considera que a conduta de Segovia na entrevista “ manifestamente imprópria e pode, em tese, caracterizar infração administrativa e até mesmo penal”. O ministro entendeu que na entrevista o diretor da PF ameaçou o delegado responsável pelo caso, “que deve ter autonomia para desenvolver o seu trabalho com isenção e livre de pressões”. Barroso afirmou também “que, como relator do caso, ainda não recebeu relatório final” do delegado Cleyber Malta Lopes nem parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR), que conduz a investigação.
Colegas reclamam muito
Após o episódio, a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) se posicionou contrariamente às declarações. Segundo o presidente da entidade, Luís Boudens, Segóvia “extrapolou” as suas funções ao se manifestar sobre questões internas de uma investigação criminal ainda em andamento. Além de pedir uma retratação pública por parte do diretor-geral, a Fenapef expressa “sua discordância e preocupação com as declarações atribuídas ao diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, em entrevista concedida à Agência Reuters de Notícia, sobre as investigações envolvendo o atual Presidente da República”. Os delegados afirmaram ainda, em manifestações nas redes sociais, que “ninguém da equipe de investigação foi consultado ou referenda essa manifestação, inclusive pelo fato de que em três de anos de Lava Jato no STF nunca houve uma antecipação ou presunção de resultado de investigação pela imprensa”, diz a mensagem.