Caso não encontre uma saída honrosa por uma nova postergação, o Supremo Tribunal Federal (STF) começa a votar depois de amanhã a questão do cumprimento da pena após julgamento em segunda instância. Assunto polêmico que ganhou a dimensão que tem hoje apenas por envolver a prisão do ex-presidente Lula. Se fosse uma disputa jurídica envolvendo os 4.800 presos – ou seriam 190 mil como anunciado primeiro? – em situação semelhante, o julgamento não teria a dimensão que tem hoje. Por envolver Lula, e as chamadas “esquerdas”, algumas almas penadas chegam a falar até em convulsão social, se os ministros do STF decidirem, depois de pelo menos três outras decisões em sentido contrário, que cumprimento de pena só após o trânsito em julgado. A radicalização dos que desejam ver Lula na cadeia e dos que o consideraram um injustiçado, um preso político com status de Mandela. Ninguém enxerga na discussão aberta na Suprema Corte uma questão jurídica, de interpretação do texto constitucional. Por isso, os xiitas de lado a lado cuidam de atacar as instituições, esquecendo-se, ou talvez lembrando até mais do que o necessário, que o caminho mais curto para o totalitarismo passa por instituições em frangalhos. Aí, o domínio é de quem tem a força. E todos nós sabemos quem a tem. Na Venezuela, por exemplo, é Maduro. Na Bolívia, Evo Morales, na Rússia, Putin, e nos morros do Rio, o tráfico. A agenda do Supremo marca para amanhã o início da votação. Se não adiarem novamente, começa na quarta-feira, mas, certamente, não termina no mesmo dia. Serão onze ministros, com luzes, apresentando seu voto diante das câmeras de televisão e diretamente na internet. E com muitas luzes, sabemos, o voto costuma ser mais longo, mais pretensamente elaborado. Mas é preciso reconhecer que, mesmo como estrelas, os ministros estarão sobre pressão. Não popular, como querem fazer crer. Pressão sim, da esquerda que deseja ver Lula livre logo, pressão da direita que deseja Lula na cadeia e usa um possível enfraquecimento da luta contra a corrupção, como argumento para manter a prisão em segunda instância. A prisão antes do trânsito em julgado pode, sim, ajudar na luta contra a corrupção, mas é apenas um motivo. Não o único nem o principal. Há outros, inclusive o reconhecimento de que corruptos não são apenas os adversários. Eles podem estar bem próximos da gente. Por exemplo, no mesmo partido. O resultado do julgamento vai nos mostrar também o grau de engajamento político do cidadão. Vamos saber se o povo está mesmo interessado nesse assunto e, mais, se a decisão beneficiar Lula, tirando-o da cela em Curitiba, terá mesmo força suficiente para recolocá-lo como um líder. Atualmente, mesmo que as pesquisas digam o contrário, o petista é apenas um ex- político. E como tal não deveria assustar tanto os adversários.