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Virando a página da história

Paulo César de Oliveira
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Seguindo o ritual de julgamento da presidente Dilma Rousseff (foto), os senadores retornam hoje, a partir das 10 horas, ao plenário para debater e votar se ela deve ou não ser afastada definitivamente do cargo por crime de responsabilidade. Um crime que Dilma alega não ter cometido, afirmativa repetida à exaustão ontem, em sua fala no Plenário do Senado. Ela gastou 44 minutos para ler o discurso preparado pelo seu advogado. Falou a palavra golpe pelo menos oito vezes e se declarou inocente e vítima de uma trama que atribuiu ao ex presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. As acusações de traição de Cunha foram se tornando obsessão na medida em que Dilma respondia perguntas dos 48 senadores inscritos. Ela concentrava toda a sua indisfarçada ira no deputado peemedebista a quem, a todo momento atribuía a aceitação do processo de seu impeachment como vingança, pelo PT não o ter apoiado num processo por quebra de decoro. A segurança que demonstrou na leitura do discurso preparado para a ocasião- em que se apresentou como vítima, primeiro de tortura e prisão por lutar pela democracia, contra o regime militar, depois vítima de uma doença grave e, finalmente, de um golpe urdido no Parlamento- Dilma não conseguiu manter na fase de perguntas. Foi repetitiva nas respostas – as perguntas também foram- e mostrou pouco domínio técnico sobre os temas. Em muitos momentos repetiu a tática de Paulo Maluf, respondendo o que não estava sendo questionado e deixando sem resposta o que lhe perguntavam.  Ficou tão desinteressante a sessão que Lula e Chico Buarque, que chegaram acompanhando a presidente, deixaram as galerias do Senado no final da tarde, sem paciência para escutarem o que senadores e a presidente diziam. Enquanto Dilma falava, o deputado Eduardo Cunha, seu alvo predileto, e o presidente Michel Temer, ainda citado indiretamente, divulgaram notas, desmentindo suas afirmativas. Cunha garantindo que ela mentia ao atribuir a aceitação do encaminhamento do impeachment a uma vingança política. O deputado, afastado do mandato e à beira de ser cassado, garantiu que deu andamento ao pedido por ter se convencido da prática de crime de responsabilidade. Já o presidente Temer, na nota, desmentiu a existência de planos de extinção ou redução de programas sociais. O que Temer não poderia imaginar é que, poupado de citações diretas pela presidente no início da sessão, passaria a centro de pesadas críticas e de acusações diretas de ser o articulador do golpe e de ter transformado o PMDB num partido retrógrado, antidemocrático, fundamentalista, perdendo sua principal característica de uma organização de centro esquerda, que ela diz ter sido o equilíbrio político do país. Dilma disse ainda que se enganou com Temer, escolhido não por ela, mas pelo PMDB, para ser seu companheiro de chapa. A presidente chegou a afirmar que com este PMDB que aí está, ela não se aliaria nunca. Frase que pode ter agradado aos convertidos, mas que, certamente, deve ter fechado a porta de qualquer entendimento em torno de votos. As consequências das falas da presidente e de seus aliados serão medidas no voto. Para os dilmistas, a fala conseguiu mudar o posicionamento de alguns senadores. Para os pró impeachment, Dilma não convenceu a ninguém e perdeu votos. Amanhã se saberá quem está com a razão.

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Tietando Chico Buarque

Nas galerias a maior parte do tempo, o cantor e compositor Chico Buarque foi o trunfo da presidente Dilma, que não demonstrou frustração por não ter encontrado nas proximidades do Congresso Nacional, os milhões de brasileiros, que ela acredita serem contra o seu afastamento do governo. Durante o seu discurso, dirigia o seu olhar para o músico e para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sentados um ao lado do outro nas galerias do Senado. Fã de Chico Buarque, em seu momento tiete, Dilma chegou a brincar que seu advogado, José Eduardo Cardozo, estava sendo ofuscado pelo músico. Mas no início da noite Chico deixou o Congresso Nacional.

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