O Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec) recuou 14,6% em fevereiro deste ano, na comparação com fevereiro do ano passado. O indicador alcançou 100,6 pontos e ficou perto do campo negativo: menos de 100 pontos. O índice foi divulgado, Pela metodologia da pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), se o índice registrar acima de 100 pontos, significa que há mais empresários com percepções positivas do que negativas da economia. Menos de 100 significa o contrário, ou seja, que a maioria dos empresários tem percepção negativa da conjuntura econômica. Segundo os dados divulgados ontem, oito dos nove subíndices que medem as expectativas dos empresários chegaram ao menor patamar na série histórica, iniciada em março de 2011.
A previsão de vendas cai
Os dados apontam como principal responsável pela queda anual da confiança a avaliação dos empresários com relação às condições correntes da economia. Em fevereiro, quatro em cada cinco empresários do setor (79,8%) consideram que a economia piorou. A pesquisa revela um empresariado mais cauteloso e menos propenso a investir. Para 47,1% dos entrevistados, o realinhamento das atividades do setor ao menor ritmo de crescimento das vendas justifica a contração. Para o economista da CNC Fabio Bentes (foto), um conjunto de fatores leva ao aumento do pessimismo no setor. “A menor expectativa em relação ao crescimento real da receita do setor, a elevação dos gastos a partir dos reajustes de tarifas públicas e o encarecimento do crédito deverão levar os empresários a ações mais cautelosas ao longo do ano.” A desaceleração do mercado de trabalho, o encarecimento do crédito e a inflação levaram a CNC a revisar as previsões do crescimento do volume de vendas do setor de 2,4% para 1,7% ao final de 2015. De acordo com a CNC, a se confirmar essa projeção, esse será “o pior resultado dos últimos 12 anos”, uma vez que em 2003 o volume de vendas no varejo caiu 3,7%. O Índice de Confiança do Empresário do Comércio é apurado exclusivamente entre os tomadores de decisão das empresas do varejo. O objetivo é detectar as tendências das ações empresárias do setor do ponto de vista do empresário. A amostra é composta por aproximadamente 6 mil empresas situadas em todas as capitais do país. Os índices, apurados mensalmente, apresentam dispersões que variam de 0 a 200 pontos.
Caem as vendas de carros novos e usados
A produção de veículos automotores caiu 28,9% em fevereiro na comparação com o mesmo mês do ano passado, de acordo com balanço da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), divulgado ontem, na capital paulista. Em fevereiro de 2015, foram produzidos 200,1 mil unidades, contra 281,6 mil em igual mês de 2014. Em relação ao mês de janeiro, quando a produção somou 204,8 mil unidades, houve queda de 2,3%. No acumulado deste ano, foram produzidos 404,9 mil veículos, 22% a menos do que o total do mesmo período do ano passado (518,9 mil). “A produção de fevereiro reflete diretamente o desempenho do mercado interno, assim como o das exportações, e mostra forte necessidade de ajuste dos estoques. Nós voltamos à mesma produção de fevereiro de 2009”, destacou o presidente da Anfavea, Luiz Moan. O licenciamento registrou retração de 28,3%, com a venda de 185,9 mil veículos em fevereiro, número menor do que as 259,3 mil unidades de fevereiro de 2014. Na comparação com janeiro, quando foram comercializados 253,8 mil veículos, houve queda de 26,7%. Nos dois primeiros meses de 2015, as vendas totalizaram 439,75 mil unidades, 23,1% a menos do que no mesmo período de 2014. “O licenciamento sofreu uma queda substancial e um dos motivos é que tivemos o carnaval em fevereiro, sendo que no ano passado foi em março. Há também o efeito do aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados [IPI] e a perda do nível de confiança do consumidor em função da série de ajustes feitos pelo governo”, explicou Moan. Ele destacou ainda a queda das vendas no setor de veículos usados. “A perda da confiança não se restringe aos novos, mas também aos usados. A queda de 6,6% nas vendas é um indicador extremamente preocupante para o setor”. As exportações caíram 7,2% no acumulado do ano, com 47,568 mil unidades comercializadas no mercado externo, contra as 51,239 mil contabilizadas em janeiro e fevereiro do ano passado. Na comparação com fevereiro de 2014, foi registrado crescimento de 9,2% e em relação a janeiro, houve elevação de 91,8%. “Continuamos sentindo muito a queda das exportações para a Argentina, cujo mercado vem caindo, por isso também sentimos esse reflexo.”
E os empregos vão caindo também
Em fevereiro, estavam empregados no setor automobilístico 142,314 mil trabalhadores, queda de 1,3% sobre janeiro (144,163 mil). Na comparação com fevereiro do ano passado, houve queda de 8,8%. “Nosso empregado é muito qualificado e a última coisa que as empresas gostariam é de perder esses funcionários. Por isso fazemos um grande esforço na manutenção desse emprego qualificado”, disse Moan. O presidente da Anfavea ressaltou que a entidade revisará as previsões. Ele acredita que esses números sofrerão redução significativa. “Ainda precisamos do mês de março para uma maior avaliação das alterações que devem ser feitas no nosso mercado. Será com um número menor do que previmos em dezembro porque o quadro se alterou muito. Fazíamos sempre no meio do ano, mas resolvemos antecipar devido ao quadro.”
O que aumentou foram as importações
Estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que o coeficiente de participação das importações, que mede a presença dos produtos importados no consumo nacional, bateu recorde e atingiu 22% no ano passado. Em relação a 2013, houve aumento de 0,6 ponto percentual. Segundo a CNI, o valor é o mais alto desde o início da série histórica em 1996. Os números estão no documento Coeficientes de Abertura Comercial, divulgado ontem pela CNI e elaborado em parceria com a Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). Na avaliação dos técnicos, o consumo de insumos importados pela indústria também foi recorde (24%), com aumento de 0,8 ponto percentual em relação ao ano anterior. “O aumento no índice foi puxado, sobretudo, pela indústria de transformação, cujo coeficiente de insumos importados atingiu 24,9% no ano passado. Dos 21 segmentos analisados, apenas os de celulose e papel e derivados de petróleo e biocombustíveis tiveram queda no coeficiente em comparação a 2013”, informou a CNI.O coeficiente de exportação, que calcula o percentual de produção exportado, ficou em 18,8% e manteve-se praticamente estável em 2014 na comparação com 2013, quando atingiu 19%, mostra ainda o estudo. O crescimento da fatia de insumos importados na indústria, aliado à estabilidade nas vendas para o exterior, contribuiu para a queda de 0,8 ponto percentual, no período, no coeficiente de exportações líquidas, que é a diferença entre a receita com exportações e o gasto com insumos importados. Em 2014, esse índice foi 3,5% em relação a 2013 (4,3%).