A crise já ocupou as ruas

Já possível ver e ouvir nas ruas das cidades, com mais ênfase nas de maior porte, as cores e os sons da crise. Há sinalizações e otimismo de que a situação econômica do país vai melhorar, mas, por enquanto, o que se vê é o aumento descontrolado dos vendedores ambulantes a ocupar, com uma discreta complacência das autoridades, ruas, praias e outros espaços públicos, na busca do consumidor que, também preocupado com a possibilidade de perda do emprego, se retraiu e anda reduzindo o necessário e correndo do supérfluo. Na contramão até da queda no número de passageiros no transporte coletivo nas maiores cidades, resultado da retração econômica, aumenta a procura de vagas nos cursinhos preparatórios para concurso público. É a esperança de, com um esforço adicional, e mesmo muitas vezes, com o sacrifício da realização profissional, obtenção de uma nomeação para um cargo público, que represente estabilidade de emprego para enfrentar crises futuras. É este Brasil que está nas ruas buscando renda para sobreviver, que tem pressa na solução da crise política. Pois é da solução da crise política que virá a solução da econômica com suas mazelas de desemprego e piora geral na qualidade de vida dos cidadãos. É esta pressa que o Senado precisa compreender. A sensação que se tem é que de Brasília, não se enxerga o Brasil. Há um descompasso entre o povo e as autoridades, dos três Poderes que vivem- sendo complacentes, trabalham- em Brasília. As decisões fundamentais para o país vão sendo postergadas, colocando uma trava em nosso desenvolvimento. Um exemplo disto é o processo de impeachment da presidente Dilma que se arrasta em nome da garantia de ampla defesa. Até aqui, ampla defesa consiste em repetições de atos, alongamentos de fatos, com o único objetivo de adiar ao máximo o desfecho. Mas é exatamente o desfecho, seja qual for, que a população, mais do que cobra, necessita. Entendam isto, senhores, e deixem de fazer teatro de baixa qualidade. Resolvam aquilo que precisa ser resolvido. Do resto a sociedade cuida.