“Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil”, profetizava, há mais de um século e meio, o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire. Para ele, a praga das formigas impediria o país de desenvolver sua economia, assim como hoje, garante o economista Carlos Alberto Teixeira (foto), presidente da Associação dos Economistas de Minas Gerais, a praga dos juros altos inviabiliza qualquer tentativa de retomar o crescimento econômico. Para complicar, segundo ele, o Brasil, de muito, esqueceu como fazer a economia crescer.
Juros altos e inflação baixa. Essa combinação dá certo?
De forma alguma. Hoje o maior entrave ao crescimento econômico chama-se taxa de juros. É absolutamente incompatível e já deveria ter chegado a níveis civilizados. Para se ter uma ideia, nos últimos seis anos, os três níveis de governo- União, Estados e Municípios- gastaram, somente no pagamento de juros, 34% do PIB brasileiro, ou 700 bilhões de dólares. Nos últimos 22 anos, o Brasil já gastou a título de pagamento de juros da dívida pública, o equivalente a um PIB, um trilhão, 721 bilhões de dólares. Essa é a ruína, a desgraça. Eu comparo a situação dos juros à frase: “ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil”. Ou o Brasil abaixa a taxa de juros, ou os juros vão destruir o Brasil.
Os cortes de gastos propostos pelo governo valem pouco com os juros nessas alturas?
Pelo menos estamos tendo uma tendência de queda. Você hoje tem uma certa unanimidade em relação a essa questão.
O governo tem que cortar as despesas?
O problema do Brasil é o seguinte: o país não consegue crescer. Nós desaprendemos a crescer. A máquina de crescimento está enferrujada e quebrada. O país, nos últimos seis anos, cresceu apenas 2%, enquanto a média mundial foi de 22%. Significa dizer que nós estamos na contramão. País que não cresce é país condenado, é país condenado ao subdesenvolvimento e à miséria. Os maiores inimigos da democracia são o subdesenvolvimento e a miséria. O país que não cresce fica contingenciado a questão da despesa. O denominador quando é pequeno, qualquer numerador fica alto. A receita quando é baixa, qualquer despesa se apresenta alta. Ou o Brasil retoma o crescimento, a taxas vigorosas e contínuas e coloca como premissa básica transformar-se numa nação desenvolvida ou não vamos sair da situação atual. E vamos no caminho contrário, agravando a crise e crescendo as tensões sociais.
E alimentando o populismo de direita e esquerda?
Exatamente. As últimas pesquisas indicam isto.
A equipe econômica está muito lenta nessas decisões?
Não. Eu acho que essa equipe econômica é das melhores. O problema do Brasil, principalmente nos últimos 25 anos, é que a questão da estabilidade de preços ofuscou toda a possibilidade de se ter outras demandas, entre as quais o crescimento econômico. O Brasil, nesse período, ficou igual a Portugal na época de Salazar. Ele ficou 42 anos no poder, com a economia estabilizada, sem inflação, com a dívida externa sob controle e com a economia estabilizada. Só que não conseguia crescer. No final do mandato dele, Portugal se transformou no país mais atrasado da Europa e talvez do mundo. Nós estamos repetindo esse modelo. O Brasil não consegue crescer. Se nós imaginarmos que no governo JK a economia crescia 8% ao ano, o dobro da média mundial, ou seja, nós temos experiência de crescimento, temos que colocar essa premissa como meta principal, recuperarmos e nos reconciliarmos com o desenvolvimento e com o crescimento vigoroso. Se isto não acontecer, nós não vamos sair dessa posição e lamentavelmente não tem pessoas pensando e enxergando desta forma.