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Caminhando para um novo modelo de transporte público

 O setor de transporte público de passageiros vem ao longo dos anos passando por um desgaste, agravado na pandemia da Covid. Os passageiros pagantes não são suficientes para manter o serviço. O aumento dos combustíveis, mais o custo de manutenção da frota acelera o sucateamento do setor, que vive uma das suas piores crises. O problema é comum em todo o país. Em Belo Horizonte, um acordo entre empresas, prefeitura e Câmara Municipal para subsidiar o setor, com a injeção de R$ 237 milhões é um respiro, segundo o presidente do Conselho de Administração do Setra (Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros), Robson Lessa (foto), mas, ressalta, é apenas um passo na busca de um novo modelo de transporte urbano.  

Qual é a situação do transporte público de passageiros no país. A crise é generalizada?  

O transporte público de passageiros, em nível nacional passa por um momento bem difícil. Tivemos diversos aumentos de custo e para a população arcar com esses custos é muito difícil, porque a renda não tem subido na mesma proporção. Por isso, o caminho para o transporte é o subsídio dos governos federal, estadual e municipal. É uma fase de transição do que era o setor com o público pagante da roleta bancando o transporte e o que é a realidade do transporte hoje, com esse público que não tem ais condições de pagar essa conta. O que estamos vendo é uma transição de um modelo, que se mostrou exaurido, para um novo, que teremos que buscar daqui para frente. A verdade é que estamos em uma transição e para sobreviver, o transporte público terá que mudar esse formato.  

Os usuários querem um transporte seguro, eficiente e confortável. É possível fornecer esse serviço?  

Possível sempre é e por isso é o nosso objetivo. O que nós estamos passando é por uma dificuldade tremenda. As empresas foram obrigadas a fazer cortes de todas as proporções para conseguir colocar os ônibus nas ruas. Nós estamos trabalhando com o mínimo de recursos e, obviamente, estamos ofertando o mínimo de transporte também. O transporte vai se transformar e dará a volta por cima, porque um novo modelo está surgindo.  

Com esse acordo com a prefeitura, será possível adequar o serviço que está sendo exigido do setor?  

O setor passa por um momento muito difícil. Estamos há muitos anos vivendo um abandono pelas autoridades, sem que o problema fosse encarado de frente, jogando para debaixo do tapete, adiando soluções e chegamos a um sistema sucateado. Temos que remodelar isso, para o transporte em Belo Horizonte voltar ao que foi em outras épocas. Em Belo Horizonte, as empresas sempre prestaram o melhor serviço de transporte do Brasil. Obviamente que hoje, temos que levar em consideração a mobilidade das cidades. Ainda faltam vias exclusivas para o transporte público, o que vai ajudar bastante. Não só para os ônibus, como também para os taxis.  As vias exclusivas precisam existir para fluir o transporte, porque o transporte público tem que ter preferência sobre o transporte privado. É preciso uma mudança de conceito, uma mudança de cultura na cidade. Belo Horizonte tem pouquíssimas artérias, com vias preferenciais. Outras cidades estão bem mais avançadas.  

O acordo com a prefeitura resolve o problema? 

Além dos investimentos, como nesse acordo feito com a prefeitura, esse é só o início, só uma luz no fim do túnel. É preciso fazer, ainda, aquela auditoria, mostrar, com toda a clareza, que não existe nada a esconder. Nós somos bombardeados, falam que as contas não aparecem. A forma que está no contrato de demonstrar é pela auditoria e pela arbitragem. Nós entramos na Justiça pedindo as duas formas. É do nosso interesse resolver esse imbróglio, esse assunto, vira e mexe, vem à tona. Isso não nos interessa. Vamos colocar os pingos nos “is” e mostrar claramente os números. Foi contratada uma auditoria no início do mandato do prefeito Alexandre Kalil. A auditoria demonstrou um número muito grande de déficit do setor, mas contestam essa auditoria. O que penso é que devem contratar uma auditoria internacional para que não reste nenhuma dúvida.   Diante disso, tem que se fazer uma política para o transporte, não em cima do transporte. Os políticos estão batendo no transporte, porque usam o transporte para ganhar a eleição, mas depois deixam o transporte sucateado. Isso é muito triste. Usar o transporte, não só o coletivo, para se eleger e depois esquecer o assunto.  

O setor tem uma proposta de um novo modelo de transporte público?  

Temos sim e estamos conversando o tempo inteiro com a prefeitura e até em nível nacional, em Brasília. Nós temos buscado mudar essa situação. Mas nós precisamos de um investimento bem maior. Em São Paulo são investidos R$ 4 bilhões de subsídio ano. Temos um custo de R$ 110 milhões ao mês, totalizando R$ 1,3 bilhão a R$ 1,4 bilhão ao ano, e só agora conseguimos um subsídio na ordem de R$ 237 milhões para 12 meses, incluindo o transporte suplementar. O valor chega a pouco mais de 15% do que estamos precisando. Teríamos que ter um subsídio na ordem de R$ 500 milhões. Mas é um bom início, uma porta que se abre.   

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