A situação política e econômica do país passa por momentos de tensão constante nos últimos dois anos, e quando a situação parece ter se estabilizado, novas denúncias complicam ainda mais, trazendo insegurança e instabilidade. Para piorar a situação, a Constituição brasileira está caduca, segundo um dos pais do Plano Real, o economista Edmar Bacha. Qualquer expectativa de melhora tem que passar pela revisão da Constituição, de uma reforma política e econômica. Só assim o país vai conseguir avançar, a economia vai crescer e o desemprego vai diminuir.
O senhor que participou da implantação do Plano Real, como avalia a situação política e econômica?
Nós estamos vivendo a maior recessão da nossa história. A crise política dificulta muito a economia sair dessa situação. É muito ruim a situação que nós nos encontramos. Nós temos que esperar um pouco, aguentar o tranco e quem sabe se a partir de 2019 nós conseguimos consertar esse país.
O que poderia ser a solução economicamente falando?
Eu creio que nós estamos em uma crise constitucional. Creio que a Constituição de 1988 ficou caduca do ponto de vista econômico, porque ela consagrou um modelo estatal protecionista, que não mais se coaduna com a realidade dos mercados. Precisamos de um modelo de economia liberal e em segundo lugar é uma crise também porque temos um distributivismo totalmente equivocado, que procurou estender os privilégios em vez de extingui-los e privilegiar o foco da ação social do governo em quem de fato necessita. Nós precisamos definir todo o sistema de gratuidade, de universalidade para convergir a ação social do governo e focar naqueles que mais necessitam dessa ação do governo e não vincular aos grupos de classe média e alta, como acontece atualmente. Em terceiro lugar, a Constituição era parlamentarista e na última hora se aprovou um presidencialismo, que primeiro se tornou de coalisão e em seguida um presidencialismo de cooptação, que deu origem ao maior escândalo de corrupção que temos em nossa história. Nós precisamos mudar o sistema eleitoral e político. Nós precisamos passar o país à limpo e para isto nós precisamos de uma nova constituinte.
Muitos empresários estão defendendo a realização de uma nova Constituinte. O senhor acredita que deveria ser convocada uma nova Constituinte exclusiva ou continuar sendo remendada como vem acontecendo?
Eu espero que seja possível, não uma Constituição exclusiva, uma mudança geral para rever toda a Constituição de 1988. Sou contra uma constituinte exclusiva, somente para área política. Acho isso um equívoco. Ainda mais agora com a entrada do Brasil na OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – organização internacional de 35 países que aceitam os princípios da democracia representativa e da economia de livre mercado), demonstra que o Brasil é um país que quer de fato pertencer ao primeiro mundo, que quer de fato eliminar a pobreza, ser próspero e contribuir para a humanidade. E nisso, nós precisamos, aproveitando que a operação Lava Jato vai reformar nosso sistema político, fazer também uma nova Constituição.
O que está se observando agora na economia é a deflação combinada com inflação. Essa situação indica mais problemas na economia?
Ao contrário, é uma ótima oportunidade para o Banco Central derrubar os juros, como tem feito e como vai continuar a fazer para que, finalmente, tenhamos juros civilizados neste país.
Essa briga entre governo, Ministério Público e às vezes uma queda de braço com o Supremo Tribunal Federal. O país aguenta essa situação?
Eu acho que nós precisamos de novo apresentar ao país alguma perspectiva como o Plano real apresentou e iniciar um debate de maneira ampla participação sobre o que seria necessário escrever nessa nova Constituição, para que possamos de fato ter um país pronto para se desenvolver.
O governo tenta atrair o investidor estrangeiro para o país. Com essa instabilidade, o senhor acha que será possível tornar o país mais atraente?
Eu acho essa questão do investidor estrangeiro relativa. O importante não é trazer o investidor para explorar o mercado interno. Veja bem, você traz o investidor estrangeiro aqui e ele não exporta, porque o custo Brasil é muito elevado e acaba que trazemos capitais para cá, que tem enormes lucros e o Brasil pouco se aproveita, porque os produtos que são produzidos não podem ser exportados, não participam das cadeias internacionais de valor. Nós temos que antes de pensar no investidor estrangeiro, pensar no comércio, na integração do Brasil no comércio mundial e aí sim, pensar na participação estrangeira possível.
Intensificar o comércio no Mercosul seria uma forma do brasil também sair dessa crise?
O Mercosul pode ser utilizado como um ponto de partida, nunca como um ponto de chegada, como foi o caso até agora.
São 14 milhões de desempregados, mais os mais de 10 milhões no mercado informal, subempregados. Como resolver essa situação?
Em curto prazo não tem como resolver, há formas de minorar a dor dos que estão aí, pensar em maneiras de aliviar a crise de desemprego, mas essa questão só vai se resolver com a retomada do crescimento e nós só vamos conseguir isso com um novo modelo político para o país.