O presidente do BNDES, Paulo Rabello (foto), tem irritado alguns aliados do governo com suas críticas a situação do país e a pressão que sofre para encontrar irregularidades cometidas na gestão anterior. Sem ceder às pressões e alheio às críticas, já avisou que pretende defender suas ideias pelo PSC. O lançamento do seu nome à presidência da República é apenas uma forma de participar desse processo. O cenário político é confuso, mas ele defende a participação de cada cidadão nesse debate. O seu trabalho no BNDES deve ter reflexos mais efetivos nos próximos meses, ao se aproximar dos micro, pequenos e médios empresários, sem deixar de lado a sua carteira de financiamentos. A alma do BNDES, segundo ele, é a empresa. Para 2018, o banco deve liberar até R$ 100 bilhões em investimentos.
Com esse cenário político, a próxima eleição pode ser de muitos ataques?
Difícil dizer. Mas acho que será o contrário. A população está enojada do debate político de baixo nível. O BNDES vai tentar dar uma colaboração apresentando propostas na área de infraestrutura e logística, de forma que todos os candidatos tenham informações e eventualmente usem em suas plataformas informações mais ou menos comuns a todos para elevar o nível do debate.
A máquina pública se tornou em um grande monstro?
É um grande entrave. Não posso dizer que é um monstro, porque a minha experiência particular é diferente. Nos 11 meses que passei no IBGE, devidamente motivada, convencida e estimulada, essa máquina pública que tem funcionários que são brasileiros como nós, assume seu papel e realiza, or exemplo, o agro deste ano, que era tido como impossível de acontecer se não houvesse essa motivação que se tem agora. E nós conseguimos fazer isso com metade do R$1,6 bilhão que inicialmente me apresentaram como conta para fazer o censo. E vai ser o melhor censo agropecuário dos últimos tempos. São mais de 2,2 milhões de estabelecimentos recenseados. Isso é algo extraordinário. Dizer que é um monstro? Eu digo que nós precisamos de gestão.
O BNDES vai trabalhar com que projetos para chamar o empresário para investir?
Na realidade, o mais sofrido grupo empresarial é o do micro, pequeno e médio empresários, porque esta faixa não tem, muitas vezes, a garantia necessária para ampliar as suas linhas de crédito. O Banco, tradicionalmente não opera nesta faixa de modo direto. Opera através de algum ente financeiro e financeiras, que banca esse risco da escolha do cliente e assim tem sido com o cartão, com o BNDES, com as operações indiretas, financiamentos de máquinas e assim por diante. Nós estamos estudando a possibilidade de fazer isto com que o BNDES online. É uma inovação, que vai exigir uma metodologia diferenciada para o BNDES manter esse risco na sua carteira. É um risco novo para nós, mas nós estamos dispostos a correr e aprender a estar nessa área, porque tivemos um setor bancário ainda muito acanhado. 2018 está chegando e definitivamente ainda existe um fluxo mensal negativo na concessão de crédito. Ao invés de haver fluxo positivo, hoje o fluxo é negativo na ordem de R$ 10 bilhões por mês. A economia já mostra sinais de recuperação, mas quando se vai para o crédito pessoa jurídica, o processo é de retração. O Plano do BNDES em curtíssimo prazo é atacar esse problema. O BNDES Giro, que é a antiga linha pró-gerência, uma linha de capital de giro, agora se tornou uma linha mais automática. O BNDES dá uma resposta de cadastro do cliente em 24h no máximo, porém, ainda com intermediário financeiro, que tem que administrar esse crédito. Nós estamos pensando em, eventualmente, trabalhar também com a linha direta.
O BNDES vai agilizar o processo?
Não só agilizar. É não adotando o intermediário financeiro como elo. Só que nós não somos um banco de agência. Então, qual é a solução? Nós temos que ter algum meio de falar por meio da conectividade digital, tudo pela internet. Será analisar o risco desse cliente sem olhar para a cara dele. O banco antes funcionava em relação ao setor público, com garantias da União. Ele tem que buscar, agora, outras formas de colaborar com estados e municípios. A segunda linha do banco que está sendo estudada é para os pequenos municípios. Mais de 90% dos municípios brasileiros são pequenos. Um pequeno quantitativo é suficiente para um grande avanço. A lógica é a mesma para os micro, pequenos e médios empresários. Com isso, vamos afastar a infraestrutura, as obras maiores ou a grande empresa? Longe disso. Pelo contrário, estamos em processo de aceleração total. Dos R$ 75 bilhões de desembolso que nós devemos atingir neste ano, no total de todas as linhas do BNDES, nós estamos objetivando chegar a R$ 100 bilhões no próximo ano. Se isso acontecer, será um avanço de R$ 25 bilhões. A empresa é a alma do BNDES. E aí a minha crítica ao momento atual: enquanto nós não tivermos o crédito de investimento andando para frente, os investimentos do governo para o setor público andando para frente, nós não podemos dizer que nós estamos em um caminho estruturalmente melhor. Podemos, no máximo, dizer que estamos melhores
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O governo tem que fazer a sua parte liberando recursos?
Com certeza e não está conseguindo fazer porque o orçamento está contingenciado com gastos de custeio. Voltamos para a mesma história do gasto de custeio.