A economia dá sinais de recuperação e de que o pior ficou para trás. Anda assim os empresários mineiros estão cautelosos, principalmente porque 2018 é um ano eleitoral e, dependendo do resultado, a economia brasileira pode sofrer novamente devido a situação política do país. Esse não é o único assunto que preocupa os empresários. O presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais, Olavo Machado Jr.(foto), exemplo, está empenhado no convencimento dos deputados federais da necessidade de se votar a reforma previdenciária após o recesso.
Para os empresários 2017 foi um ano para se repensar e aprender mais sobre a economia brasileira?
Foi um ano de muito trabalho. É claro que nós aprendemos todos os dias, nós precisamos estar atentos todos os dias, ver os exemplos que vem das economias do mundo inteiro, mas 2017 foi um ano efetivo de muito trabalho. Tanto é que ele começa a dar uma perspectiva positiva na economia, justamente porque nós tivemos condições e coragem e fazer as mudanças que precisávamos. A reforma trabalhista é uma dessas mudanças, que criam essa expectativa positiva, que incentiva o empresário a empregar e a criar oportunidades. Eu acredito que 2017 não foi um ano só de contemplação.
Os empresários estão mais engajados em questões como a reforma da Presidência. Até que ponto os empresários conseguem influenciar nessas decisões?
Eu acredito que nós temos uma capilaridade muito grande, porque a nossa indústria está espalhada pelo estado inteiro e é claro que os nossos trabalhadores precisam ser orientados. Nós pretendemos fazer, efetivamente uma cartilha para mostrar para o trabalhador o porquê da reforma da Previdência. O empresário já entendeu, ele sabe que se nós não criarmos as condições para que a Previdência efetivamente tenha recursos para cumprir o seu papel, ela explode. Quer dizer: é uma bomba relógio que está acionada e se nós não tivermos velocidade e perseverança para mudar, isso explode e vai prejudicar a população como um todo. Todo o recurso que o governo arrecadar terá que ser destinado à Previdência. Com isso, o país para. Nós já temos poucos investimentos em infraestrutura. E daqui a mais quatro, cinco, seis anos, a Previdência toma todo esse recurso e não teremos mais o que fazer e a economia para.
Em um ano eleitoral, o senhor acredita que os deputados vão mesmo votar a reforma da Previdência? Eles terão esse desgaste em um momento em que a classe política está tão desacreditada?
Eu acredito e tenho certeza da responsabilidade dos nossos políticos. É claro que é complicado, ele vai perder o eleitor porque não tomou as providências quando precisava. Ele arma também uma bomba relógio na representação política que ele tem e confio que os nossos políticos sabem disso. Eles sabem da responsabilidade e sabem que não é isto que vai tirar os votos deles.
Os estados e os municípios passam por um momento dramático e não estão conseguindo manter os serviços básicos para a população. Essa situação compromete o trabalho do setor produtivo?
Isso cria insegurança jurídica. Quem tem insegurança jurídica não atrai ninguém para investir no território dele. A responsabilidade dos prefeitos, dos administradores públicos é muito grande e ela está sendo cobrada. A realidade é que eles não podem simplesmente se omitir, porque não há mais como, senão eles não pagam a folha de pessoal. E eles tendo folha para pagar e não pagando o desgaste é muito maior. É preciso ele estudar como fazer os cortes necessários, otimizar o uso dos recursos que ele tem, ver como a população pode ser melhor atendida e com todos os políticos juntos, aí sim, nós podemos fazer um país. Enquanto nós fingirmos que não é com a gente, que “não vou mandar ninguém embora, o ideal é que não houvesse demissão”, mas a população também tem que saber que os governos não têm recursos para manter os quadros que muitas vezes estão lá. Os governos têm também a folha de inativos, dos aposentados, que onera e que cada vez cresce e inviabiliza o serviço público.
Está na hora de se repensar o tamanho do Estado?
Esse é o tipo de atividade que os nossos representantes políticos deveriam ter como uma constante. Da mesma maneira que em uma indústria a preocupação é a de cortar custos, o serviço público também precisa ser mais eficiente, ser mais presente, precisa ter os recursos necessários para aquilo que a população precisa de imediato. Isso é administrar, isso é gerenciar e nós temos certeza que com isso acontecendo, e tem que acontecer a todo momento, nós vãos reverter esse quadro de incompetência que se tenta pregar em todos os políticos para mostrar que todos são ruins. Eles mesmos é que vão ter que aprender o que vão ter que fazer.
A eleição de 2018 será atípica, com partidos e políticos desacreditados pela população e o ex-presidente Lula liderando as pesquisas. Como o senhor avalia esse quadro?
A eleição pode ser atípica justamente pela descrença que muitos brasileiros estão em relação ao momento político pelo qual o país passa. Com isso, a grande manifestação que se terá será anulando o voto ou votar em branco. Mas os políticos serão eleitos mesmo se 50% da população anular voto, outros votarão. O político que teve 100 mil votos antes, pode ser eleito com 50 mil votos. O que nós precisamos falar é o seguinte: o fenômeno político de Lula, nós temos que pensar se o país precisa disso. É isso que a população acredita que nós vamos conseguir? Ou nós precisamos esclarecer mais a população, precisamos cada vez mais dar mais educação para que o cidadão entenda o que está acontecendo. Não é ser contra ou a favor de alguém, mas a grande realidade é que, hoje, o cenário é diferente daquela época de 2002, quando Lula foi eleito pela primeira vez. Hoje nós não temos mais o José de Alencar para dar credibilidade e apoiar a candidatura dele. Acredito que a população é sábia, sabe o que faz. Tenho a impressão que na hora, com tanta convulsão que tivemos no país, com tantos problemas que tivemos no país, problemas empresariais e políticos que nós passamos, o eleitor vai saber escolher.
Essa será uma eleição polarizada com esquerda disputando com a direita?
Essa é uma maneira de influenciar, mas o que vai dizer realmente qual será o quadro, será quando as candidaturas forem colocadas e a população puder avaliar o que cada um já ofereceu, aquilo que já fez. Não é hora para amadores. Não é hora para fazermos tentativas, não é hora de falar que fulano tem essa característica que nós precisamos. Não. É hora de nós refletirmos muito, o eleitor precisa ter a responsabilidade, senão, depois não teremos para quem reclamar se errarmos mais uma vez na eleição.
Qual o risco que Lula oferece?
Na vez passada ele nos surpreendeu, depois com a confiança gerada com os absurdos que nós passamos, ele se perdeu. Mas eu acredito que o peso da cadeira de presidente é que faz isso. Veja o Temer, que tem uma popularidade muito baixa e que felizmente está começando a crescer. Ele está fazendo coisas que muitos presidentes eleitos não tiveram coragem de fazer. A cadeira do presidente fez com que Temer realizasse muitas coisas, uma vez que ele teve o mandato reduzido, situação igual a de Itamar Franco, que quando presidente atingiu aquilo que era necessário, independente da popularidade.