Tenho evitado acompanhar a propaganda eleitoral gratuita e confesso, resistido a ouvir as entrevistas dos candidatos, tanto a governador quanto a presidente da República. Só não me desligo inteiramente do assunto por dever de ofício. Este posicionamento tem uma razão simples: é que a fala deles nos deixa quase em depressão, humilhados mesmo, diante de tanta genialidade. Reparem como têm soluções fáceis, de uma simplicidade de fazer corar frades de pedra. Deixam-nos em dúvidas quanto a nossa própria inteligência. Afinal, a solução está aí, clara, de uma obviedade irritante. E nós nunca havíamos pensado nelas. Nós e todos aqueles que os antecederam. Ainda por cima, apresentam uma espantosa determinação de fazer, colocando em dúvida se disputam para serem reis, ditadores ou se pretendem mesmo é enganar o povo, passando a imagem de que podem fazer o que bem entenderem, como se não houvesse o Legislativo e até o Judiciário. Até aqui ninguém se mostrou compromissado com a verdade e a realidade dos fatos. Não somos um país de soluções fáceis. Nossos problemas são muito mais complexos do que os candidatos, todos eles, tentam passar para a população. E ao mentirem, agravam as questões e tornam praticamente impossível as soluções. Impossíveis porque vendem facilidades que não conseguem entregar e então ficam sem a credibilidade indispensável aos que se propõem a liderar um processo de mudanças dolorosas. E qualquer um, por mais irresponsável que seja, sabe que não haverá mudanças indolores no Brasil. Tentar vender a imagem de que o Brasil não muda por falta de vontade política dos que, até aqui, o governaram é um crime de lesa pátria. De que nossos problemas são causados apenas pelas elites, ou pelos ianques dos discursos da década de 1960, é vender ilusão. É chamar de “apalermado” cada um dos eleitores. Tentar convencer o povo de que, vencendo a disputa, vai governar apenas com os puros de alma, é enganar os indignados. Ninguém governa assim. Quem assumir o governo, terá que conviver com espertalhões, sanguessugas, fanáticos e até honestos, pois é assim que se compõe o Legislativo, escolhido, pelo mesmo eleitor que elege o presidente, o governador e o prefeito. Antes da honestidade no exercício do mandato, é preciso honestidade na busca do voto. É preciso ser leal ao eleitor. Tratar com a clareza necessária a crise e apresentar propostas honestas para solucioná-la. Dizer que ela foi criada por maldade dos antecessores e que com um pouco de coragem, honestidade e água benta tudo se resolve, é enganar. E de enganação andamos fartos.