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A nova realidade de consumo

Paulo César de Oliveira
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Desde que o arroz se tornou o vilão da cesta básica, todos os olhos se voltaram para os preços praticados nos supermercados. Mas não são eles os vilões dessa disparada de preços. O presidente do Grupo Super Nosso, Euler Nejm (foto), lembra que as exportações de produtos agrícolas aumentaram, principalmente para a China. Se vendemos mais lá para fora, a tendência é a de faltar alimentos para consumo interno, o que faz com que a oferta seja menor do que a procura e o resultado dessa conta são os preços mais altos.

 

O aumento de preços de alguns produtos, em especial o arroz, assustou o brasileiro, que tem buscado o culpado por esse aumento. Os supermercados são os culpados?

Os supermercados, na verdade, são prestadores de serviços. Nós somos um dos setores mais competitivos e concorridos que existe, se não for o mais concorrido, e trabalhamos com margens de lucro mínimas. Nós estamos sofrendo com o aumento de preços das indústrias, principalmente das commodities agrícolas, que segundo essas indústrias, são em razão do valor do dólar e dos contratos de exportação que foram fechados, além da entressafra, que começa agora. Eles falam que até dezembro não baixa, porque os alimentos têm muita oscilação de preços. Da mesma forma que aumenta, volta. Pode ser que a pressão do presidente Bolsonaro possa sensibilizar ou, até mesmo, dar um arrefecimento na indústria. Nós, cada um quer vender mais barato do que o outro. Nós disputamos milésimos de centavos nos preços, pesquisa um e outro. A concorrência é muito grande. Ninguém quer vender mais caro. Ninguém quer ser o primeiro a aumentar o preço. Geralmente nós aumentamos quando recebemos uma nova remessa. Alimentos, de modo geral, tem sofrido muito aumento das indústrias.

 

O produtor está preferindo exportar a vender no mercado interno?

Sim. Além do dólar estar alto, a demanda lá fora por produtos é muito grande. A China voltou a comprar volumes demasiados. O Brasil, como celeiro, vendeu muito. Todo mundo vendeu, fez contratos e fica esse vácuo. O governo zerou o imposto de importação do arroz, mas nós também somos grandes exportadores, onde somos o primeiro, e do óleo de soja, somos o segundo, e o preço desses produtos está subindo demais. Nunca vi uma coisa dessas. Se fosse no início da pandemia, quando houve uma corrida aos supermercados, mas agora? As margens de lucro são muito estreitas no nosso setor. A distância entre lucro e prejuízo no nosso negócio é mínima. O resultado é através de austeridade nas despesas, não é em aumento de preços.

 

Essa parece que será uma tendência já que os produtos brasileiros estão tendo uma boa aceitação lá fora.

Sem dúvida nenhuma. Para a balança comercial está uma maravilha. As empresas que exportam commodities agrícolas estão rindo à toa. Nós somos prestadores de serviço e é o consumidor que vai penar. Geralmente a nova safra costuma ser em fevereiro. A tendência é a de estabilizar o preço alto até fevereiro.

 

Teremos uma inflação alta neste ano?

Acho que esse aumento já repercutiu. Commodities agrícolas que são exportadas dificilmente cedem no preço, a não ser na próxima safra, em fevereiro. Os produtos hortifrutigranjeiros têm uma variação normal de safra, de chuva, excesso ou falta de chuva. Os produtos industrializados de modo geral também. Mas os produtos industrializados alimentícios são feitos de matéria prima de commodities. Se perdurar por muito tempo, eles também acabam majorando os preços. Acredito que não vai chegar a isso, a não ser com as commodities que já anunciaram os aumentos, como arroz, açúcar, derivados de milho.

 

O jeito é o brasileiro se adaptar?

Pode ser que com uma pressão do governo os preços caiam. Mas não adianta só falar. Ele fez uma medida certa de tirar o imposto de importação para ver se importa. Mas o Brasil exporta, será que vamos ter que importar de volta? Tudo bem que a Argentina tem carne, soja, mas não é o bastante para o nosso mercado interno, que é um grande consumidor.

 

O Super Nosso avançou muito durante a pandemia. Como foi passar por esse processo?

Nós temos como política uma infraestrutura no centro de distribuição que permite manter os estoques. Desde o início, quando houve a corrida atrás de produtos, nós tínhamos um estoque abastecedor bastante forte. Voltando à atualidade, em relação as commodities, não há como estocar porque são produtos perecíveis e estamos sujeitos a essas oscilações. Mas acredito que vamos estabilizar com preço alto.

 

Qual a expetativa do Super Nosso para fechar o ano?

Por esse ser um setor considerado essencial, nós sofremos menos com a pandemia. Mantive o plano de expansão. Atrasou um pouco a parceria com o Carrefour, mas no final do ano começamos a virar as lojas e no primeiro semestre de 2021 viramos todas as 16 lojas do Carrefour Bairro, que passam a ser Super Nosso. Além delas, nós temos um plano de expansão em curso, que vamos cumprir.

 

Em termos de faturamento do Grupo, qual é o valor?

O faturamento total do Grupo deve crescer 10% neste ano. Mas os preços ligados aos produtos alimentícios, a inflação dos alimentos, é que deve impulsionar. Hoje nós temos 51 lojas e devemos chegar a 57, com o Carrefour e no ano que vem devemos fechar em 70.

 

O Super Nosso também lançou algumas campanhas de sucesso, como é o caso do Festival do Vinho. Elas ajudaram a atravessar esse período?

As ações que nós realizamos fizeram com que as vendas se mantivessem. A Feira de Vinhos foi inédita, de forma online, nós abolimos a distribuição de folhetos de papel e temos focado nas redes sociais, com muitas ofertas no Super Nosso, no Apoio e estamos tendo uma adesão interessante. Mesmo na pandemia nós continuamos ofertando produtos e sacrificando margem e com isso conseguimos manter nossas vendas e até crescer. Esse mês coincidentemente, estamos comemorando o aniversário do Super Nosso, com ofertas de até 50%, nos estoques de produtos de fabricação própria.

 

A internet tem sido importante nesse processo de vendas para o Grupo?

Nós estamos presentes na internet há três ou quatro anos e essa sempre foi uma operação deficitária, mas a pandemia virou, aumentou cinco vezes o número de pedidos e se mantém em números interessantes e é uma coisa que não tem volta. Quem está experimentando está gostando, seja no Super Nosso em Casa ou no Apoio Entrega. Nós também temos a opção e pegar na loja.

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