As eleições municipais desse ano foram especialmente difíceis para o PT, mas em Minas Gerais o partido vai administrar cidades que totalizam população de 1,8 milhão de pessoas, ou 8,59% do eleitorado. Só Juiz de Fora e Contagem somam 1,2 milhão de habitantes. Por isso a importância estratégica dessas cidades para o Partido dos Trabalhadores. Eleita no segundo turno em Juiz de Fora, Margarida Salomão, entende, no entanto, que as eleições municipais têm características diferentes de uma disputa nacional, mas isso não tira a importância da cidade para o partido, que historicamente sempre foi bem votado em Juiz de Fora, mas só agora conseguiu eleger um prefeito, no caso, uma prefeita: Margarida Salomão (foto).
A sua vitória é vista como muito importante para o PT, assim como a de Marília Campos, em Contagem. O que essas vitórias significam para o PT, que saiu tão fragilizado com a operação Lava Jato?
O PT já na eleição de 2018 conseguiu ir para o segundo turno, teve uma votação muito expressiva e elegeu a maior bancada federal, a maior bancada de Minas Gerais. Não obstante, as pessoas terem profetizado muitas vezes o fim do PT, o fato é que o Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras mostra uma grande resiliência. Nesse caso particular é uma disputa da cidade, para todo mundo. Nosso lema era “tudo é para todos”. Não me vejo como uma pessoa que esteja praticando uma exclusão daqueles que não votaram comigo. Pelo contrário, no dia da minha diplomação fiz questão de homenagear todos os que disputaram. Sou a prefeita de todos os juizdeforanos e juizdefornas, independentemente de seu alinhamento político. Para o partido, é lógico que conquistar uma cidade como Juiz de Fora, que sempre votou fortemente com o PT, mas onde nós nunca tínhamos chegado a prefeitura, isso, certamente, é muito importante e aumenta muito as minhas responsabilidades.
O presidente Jair Bolsonaro diz que Juiz de Fora é a sua segunda cidade, que ele se sente como mineiro de Juiz de Fora. A sua vitória foi um recado para ele?
Acho que ele tem muita razão em praticar esse gesto de gratidão, porque a saúde da cidade é de nível nacional. Se o presidente Jair Bolsonaro tivesse sofrido o ataque que sofreu em outra cidade, nós não sabemos se ele teria sido salvo com a eficácia com que o nosso equipamento de saúde reagiu. Essa é uma marca forte de Juiz de Fora, que é a qualidade na área de saúde. Nós somos um polo nacional. Acho que a avaliação que ele faz está correta.
Os municípios serão importantes nas eleições de 2022. O fato de o PT ter saído menor nas eleições municipais pode ser um problema para o próximo pleito?
Os números mostram que não se pode predizer os números nacionais a partir do desempenho municipal. Em 2016, o PT sofreu a maior derrota. Foi uma derrota histórica nas eleições deste país. Nós tivemos 6,5% dos votos no país inteiro. Entretanto, nas eleições de 2018, nas eleições presidenciais, nós chegamos a 35% dos votos. Veja que não há uma correlação. Existe uma e outra eleição. Quando as pessoas votam na cidade, a temática local necessariamente se sobrepõe. É importante estar ali arregimentando forças, mas não vejo nenhuma ligação direta entre 2020 e 2022.
Esse é um momento dramático para o país e o mundo. Há uma movimentação de prefeitos e governadores para conseguir as vacinas. Esse foi o seu caso também, antes mesmo de assumir a prefeitura?
Já me movimentei, exatamente porque essa questão da gestão municipal é inadiável. As pessoas estão cansadas, desalentadas. Elas estão desde março nesse isolamento social e mesmo não tendo sido mantido a ferro e fogo, gera um custo econômico, gera um custo psicológico, social. As pessoas estão muito desalentadas, o que não quer dizer que elas devam esmorecer, porque nós não temos, nesse momento, uma estratégia. Por isso nós firmamos esse acordo com o Instituto Butantan, para podermos contar a partir de janeiro com um milhão de doses para vacinar a população inteira e contribuir para o Brasil inteiro, na medida em que cada cidade, cada estado está fazendo a sua parte.
A crise traz o desemprego, o fechamento de empresas. O que fazer para que a cidade volte a se desenvolver e a gerar empregos?
Nós não temos capacidade de intervir no nível macroeconômico nacional. Por mais que eu tenha uma série de propostas, que aliás foram muito debatidas na bancada do partido, no plano nacional estou subordinada a outras decisões políticas. Mas no plano local nós temos uma série de estratégias já pensadas e que nós vamos desencadear imediatamente para melhorar essa situação. Nós vamos recorrer às condições locais. Juiz de Fora é sede de duas universidades federais, de uma regional da Embrapa. Nós temos um forte parque universitário, além disso, nós temos um polo importante na área de saúde, na área de serviço. Nós vamos ter que trabalhar com todas essas condições para melhorar a oferta de trabalho e renda na cidade.