Aos que, como eu, acompanham a vida política brasileira há mais tempo, soa estranho o estardalhaço que andam fazendo com a clara intervenção do presidente Bolsonaro nas sucessões no Senado e na Câmara dos Deputados. Não sei se por envolver maior número de pessoas e mesmo figuras mais “carimbadas” na malandragem política, a intervenção e a forma como ela está sendo feita na Câmara, tem ares de obscenidade, com o toma lá dá cá escancarado, com a participação de novatos, o grupo que se elegeu prometendo mudanças, a tal da nova política, e velhas figuras que, infelizmente, mantém seus mandatos, exatamente pela prática das negociatas políticas. Mas apesar de ser prática escandalosa, de provocar asco, não se pode dizer que são novas. Bem ao contrário, são antigas e o pior, alimentadas por nós eleitores. Num país de miseráveis- não digam que não somos, pois esta é a nossa realidade, Num país de péssima infraestrutura, que impede ao cidadão acesso a serviços básicas e que inviabiliza o crescimento econômico, as promessas de palanque de verbas para realizar o que o povo quer- nem sempre é o que ele precisa- conquista votos. E muitos votos. É de promessas assim que vivem os parlamentares. É de troca de favores, dou o voto, recebo, mesmo sem saber quando o que quero- que vivem os políticos brasileiros que até criaram as emendas parlamentares, forma de destinar recursos para os seus burgos pobres, como dizia Tancredo. É assim que funciona a política brasileira nas últimas décadas. Os políticos compram os eleitores e o Executivo compra os parlamentares, pagando ou não as emendas, dependendo da submissão dos parlamentares. É bem verdade, e seria injusto dizer que eles não existem, que uma minoria não entra neste jogo. Mas, infelizmente, como disse, formam uma minoria incapaz de, no exercício de sua atividade de fazer leis de interesse do país, de fiscalizar os atos do Executivo e gerenciar o uso correto do dinheiro público, conter a ação danosa dos que agem apenas em interesse próprio. Gente sem espírito público, sem formação política que busca apenas o Poder pelo Poder. Disto sabem bem os governantes mais espertos, eleitos por um povo que se julga esperto, que fazem uso da caneta para, através da liberação de verbas, manipular comportamentos e interferir visando criar o ambiente político que lhes parece mais confortável e seguro. Faltando menos de dois anos para novas eleições, este é o momento certo de acertos. É a hora de iniciar processos que estarão em andamento ou concluídos no ano que vem, dando ares de realizador aos que vão buscar um novo mandato. Gente que, na verdade, nada fez que possa ser considerado de interesse do país, mas que, aos olhos do eleitor desprevenido e interesseiro, realizou o que prometeu. É assim que roda a roda política e, pelo visto vamos demorar muito a mudar nossa realidade. Enquanto isto, vamos seguindo na prática do esporte preferido dos brasileiros: faltar mal da política, dos políticos e da democracia. Como se não fossemos nós mesmos os culpados pela democracia que temos que, mesmo com todos os seus defeitos, ainda é bem melhor do que o totalitarismo que andam acenando com ele.