A participação das mulheres na política não é fácil. Participar das discussões importantes para o país requer mais do que pulso firme. E isso pode ser constatado com a participação da senadora Simone Tebet (foto), MDB do Mato Grosso do Sul. Para participar da CPI da Covid, as senadoras tiveram que brigar por espaço, mas a participação delas tem sido fundamental para que os trabalhos avancem. Para Simone Tebet, a mulher na política, tem que fazer mais e melhor, mas o eleitor sabe reconhecer esse esforço.
Quem não conhecia a senhora, acabou conhecendo uma parlamentar que se posiciona de forma inteligente, com informações. Essa é uma forma de se impor nesse ambiente predominantemente masculino?
Nada vem por acaso. Nós mulheres já sabemos que tudo para nós é mais difícil em qualquer área, na iniciativa privada ou pública. A partir do momento em que saímos de casa, nós não saímos do ambiente doméstico e, por isso, sabemos que toda oportunidade tem que ser aproveitada. O que a bancada fez para ter voz, já que não temos vez, foi pedir um espaço para falar, pelo menos de participar, na base de muita discussão. Essa discussão foi totalmente retrograda por parte de alguns senadores, que expuseram de forma negativa o Senado, como se o Senado discriminasse as parlamentares. Ficou muito feio. Tentaram impedir uma mulher, uma senadora de falar. Nós não queríamos voto, a possibilidade de aprovar requerimentos, relatórios, nós queríamos o direito de falar. Isso ficou tão feio, que trouxe para nós os holofotes. E as mulheres sabem das dificuldades e sabem aproveitar seus espaços.
É difícil para as mulheres ter espaço na política?
Uma mulher, para chegar ao Senado Federal, precisa se superar. Não é fácil na política a mulher ocupar espaços majoritários. Basta ver a quantidade de governadoras que nós temos. Por conta disso, nós estamos mostramos que somos a cara da mulher brasileira que é competente sim, que é preparada sim, que é determinada, que é corajosa e é sensível. Não tem como o Senado e uma CPI como essa, da grandeza dessa, que trata de vidas, prescindir, abrir mão da sensibilidade e da coragem da mulher. É isso que nós estamos colocando ali. Nós fazemos um rodízio de falas. Algumas, até por conta da idade, tem falado de forma virtual e às vezes não aparece tanto ali, mas a senadora Zenaide, que é médica, ela talvez seja a senadora que mais fala na comissão. Ela fala em todas as sessões. Infelizmente a mulher ainda sofre muita discriminação na política, não é pelo eleitorado e é importante que se diga isso. Nós temos que nos superar e veja como foi importante a participação das mulheres.
A participação das mulheres está mudando os rumos da CPI?
A CPI vinha em declínio, terminando uma fase, quando a pergunta de uma mulher, que eu vi que estavam batendo muito duro e com sensibilidade disse “olha, nós queremos ver a alma do homem público. Nós queremos que o senhor não tenha medo de falar. Nós já sabemos quem é. Nós só precisamos que o senhor diga”, até porque, ele é um deputado bolsonarista e tinha credibilidade para falar. E foi da voz de uma mulher que saiu um nome que está mudando a história da CPI e pode mudar o rumo da história do Brasil.
O cenário político atual, com essa polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula, se permanecer fará com que o país vai pague um preço muito alto?
É essa a visão da maioria dos integrantes do MDB e dos partidos de centro. Não estou falando do centrão. É entender que a polarização prejudicou, inclusive, a candidatura da esquerda, do ex-presidente Lula, porque o grande entendimento é de que não devemos olhar para trás e nem ficar com o presente. Nós temos que olhar para frente, para o futuro. A economia está, em princípio, deixada de lado em nome da politização da coisa pública e isso só vai acabar quando encontrarmos uma, duas, três terceiras vias, que possam fazer andar o país e que lá na frente, em um encontro no centro democrático, nós cheguemos a um consenso sobre o nome que nós podemos estar lançando. Não acredito em uma volta ao passado, que isso vá fazer bem ao país. Isso vai exacerbar e exagerar essa polarização, que já existe nas redes sociais e que fortemente vai seguir depois que acabar a pandemia. Infelizmente, não acredito no governo que aí está, por todas as razões possíveis e imagináveis. O caminho é buscar uma alternativa de centro que possa, de novo, unir o país, como fizeram Ulysses Guimarães, Mário Covas e Tancredo Neves, em um momento de abertura democrática tão necessário. O quando foi necessária uma palavra de equilíbrio, de responsabilidade. Foram palavras fundamentais naquele momento e que são fundamentais agora. (Foto reprodução internet)