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Cardiologista Marcos Andrade

Paulo César de Oliveira
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Marcos Andrade

Seca avassaladora, incêndios, cidades enfumaçadas. Enchentes, inundações, furacões. O que está acontecendo no planeta, em especial no Brasil, parece ter saído de filmes de ficção. Mas a realidade caótica que estamos vivendo é fruto dos estragos causados à natureza e a resposta tem sido dura. O cardiologista Marcos Andrade (foto/reprodução internet), um estudioso e observador desses novos tempos avisa que as doenças respiratórias e coronárias que se tornaram comuns, vão continuar afetando as pessoas e que essas mudanças bruscas no tempo, podem ser o novo normal.

Com tanta destruição na natureza, a conta chegou?

Chegou. Eu estava me lembrando de da infância. Falava-se muito na época chegou. Eu estava me lembrando da infância. Falava-se muito na época, que a próxima guerra mundial seria por causa da água, pela falta de água. O futuro chegou e está batendo na porta. O que nós vamos ver no mundo , é o deserto. O mundo está desertificando e as doenças atuais estarão vinculadas justamente, a problemas respiratórios causadas por essa seca prolongada. O futuro sempre me chamou a atenção. Mas porque ninguém fala sobre o futuro? Sobre o planeta? Precisamos pensar no futuro. Quando pegamos a obra de Júlio Verne, vemos que ele falou de um negócio que levava a andar no fundo do mar. Ele falava de um submarino, que naquela época, ninguém tinha pensado nisso, e está lá, no “20 mil léguas submarinas”. Mas isso mostra que ele tinha que ter um conhecimento básico de alguma coisa que o levasse a pensar que, um dia, ele pudesse transformar isso em realidade. As ideias futuristas, na verdade já têm um quê de existência. Quando víamos aqueles filmes de gangs em Nova Iorque, com o mundo passando fome, com a fuligem e a seca tomando conta das cidades, falávamos que era um filme futurista. Então, o futuro chegou. Tudo que nós achamos que iria acontecer porque estávamos agredindo a natureza, está acontecendo. Essa conta ia chegar e chegou. Nós estamos vivendo a época de pagar as contas do que criamos lá atrás, com juros e correção monetária.

O nosso coração aguenta tanta mudança? O nosso corpo aguenta?

Não. Essa é uma coisa também importante, porque a gente, ao ver uma pessoa com resfriado, com uma gripezinha, na verdade é um reflexo de tudo isso. A Covid foi o grande evento que nos mostrou que as coisas não são bem assim. O que é coriza? É uma reação inflamatória do tecido do nariz em contato com o vírus, mais poluição, aquilo machuca e o organismo produz, então, aquela secreção para expulsar o que está machucando. Mas aquilo que você está vendo no nariz, está acontecendo em todas as artérias do organismo. Artérias e veias. Então, o que nós tivemos na Covid foi um monte de trombose. O que é a trombose? É uma inflamação na parte interna da artéria e, na artéria inflamada, o sangue coagula e obstrui. Então, nós estamos vendo a quantidade de gente com hipertensão arterial, porque o mesmo vírus inflama a artéria, artéria contrai, a pressão aumenta, vem a hipertensão, inflama as artérias coronárias que nutrem o coração e a pessoa tem infarto e arritmia. Então nós estamos vendo manifestações em todo o organismo. Estou dando o exemplo da parte respiratória, com pneumonia, bronquite, sinusite, da parte cardiovascular. Mas essa chamada teoria inflamatória, das doenças cardiovasculares, nunca esteve tão evidente. Hoje, ai daquele que achar que está com a gripezinha, que não vai acontecer nada. Tudo isso, esse volume de doenças inflamatórias, respiratórias que estão vindo agravadas por tempo seco, por vírus, com o ar extremamente poluído, agredindo o nosso organismo é que está levando essa grande mortalidade por doenças respiratórios, doenças cardiovasculares atualmente.

Esse parece que vai ser o nosso novo normal, não é? As estações bem definidas, parece que vão ficar no passado?

Ficou estático na seca. Realmente é um novo mundo mesmo. Nós temos que ver a solução que vamos dar para isso. Na conferência da ONU ouvi os mesmos discursos, quase que irresponsáveis, discursos quase ignorantes, um monte de palpites de gente que não tem a vivência do problema, ou tem uma vivência teórica. Eu sempre falo muito sobre isso. Em todas as ciências da medicina é muito evidente que nós temos grandes conhecedores da ciência, mas que não sabe aplicar o conhecimento que tem. Tem a teoria, mas não tem a prática, então fica discutindo, discutindo, discutindo, discutindo, discutindo, mas o que se vê de efeito prático? Nada. No Brasil, nunca se queimou tanta mata. Nunca secou tanto o rio. Realmente, tempos sombrios estão para acontecer. Não, já estão acontecendo.

Como se não bastasse tudo isso, estamos vendo surgir novos vírus na África, na Ásia, com reflexos na Europa e nas Américas. É mais um perigo?

Não quero ser repetitivo, mas se você pegar alguma coisa que eu falei para você mesmo durante a Covid, o que mais me impressionava, era que estava todo mundo preocupado com as consequências, e ninguém estava preocupado com as causas. O mundo não tomou nenhuma providência no sentido de erradicar aquelas causas de doenças virais. O mundo não passou a alimentar melhor, o mundo não, não passou a habitar melhor, o mundo não pensou na descontaminação dos rios, de transmissão de doenças. O mundo não melhorou a nutrição. Ficou todo mundo pesquisando remédio e vacina. Remédio e vacina são coisas tardias na cadeia das doenças. Quando a prevenção falha, é que entra o tratamento. Foi a gripe espanhola, foi ebola, foi Covid e nós vamos continuar, assim. Todas as vezes que tiver um vírus, vamos conseguir controlar, ele vai mutar e nós teremos outros vírus. Esse é ciclo viral é uma coisa que não vai mudar. O que mudou é que eles estão ficando cada vez mais virulentos. Fazendo uma paródia, assim que eu me lembre aqui da época de escola, quando os alunos que colavam na prova, quanto mais bravo o professor, mais vigilante o professor, mais brilhante era cola. O vírus é assim. Se você tentar estancá-lo, mas com pouca eficiência, ele sobrevive, aparece do lado um pouquinho diferente e passa por você. Ele também é inteligente, ele também quer sobreviver. Ele é superinteligente. Então, as transformações genéticas são coisas espetaculares. O futuro chegou e ele é sombrio.

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