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Paulo Rabello de Castro: economia fora da pauta eleitoral

Paulo César de Oliveira
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Paulo Rabelo de Castro

Diferentemente de outras épocas a economia brasileira não está entre as principais preocupações dos brasileiros nessas eleições. Para o economista Paulo Rabello de Castro (foto/reprodução internet), isso tem uma explicação, que passa pelo nível de desemprego e pelo aumento da renda da população.

 Parece que a economia ficou em segundo pleno nas eleições municipais. Esse assunto não é mais visto como um problema?

 Acho que esse seu comentário encontra explicação em alguns indicadores da economia que, momentaneamente, estão numa inclinação favorável. O desemprego recuando, o salário real elevando, na grande maioria das regiões está aumentando a oferta de postos de trabalho e a inflação está relativamente controlada. É possível notar inclusive que , os preços mais sensíveis, principalmente combustíveis, está andando de lado. Os preços estão estáveis. Isso tudo configura um certo recuo, também no nível de ansiedade da população. É essa a temática da economia. Aí você me pergunta, mas e o déficit público?  Déficit público não é assunto que passa pela cabeça de 99,9% das pessoas no Brasil. Pelo contrário, o déficit público é algo que as pessoas, em geral, são usufrutuárias desse déficit, elas comemoram. As consequências são como o porre que vem depois de você tomar um belo vinho exageradamente. Ninguém está preocupado com isso.

 Os juros estão altos e eles afetam nas contas da população?

 Sim. Eu acho que é o brasileiro é acostumado com juro alto. Com juro absurdamente alto.  E esse tema também não é uma coisa que assusta porque, como a inflação está relativamente baixa, o juro que realmente está alto é o juro real, porque as empresas acabam pagando. Elas não têm uma recomposição de preços que acompanhe uma taxa de juros de, por exemplo, 20%.  É elevado, mas se você perguntar se isso é elevadíssimo em termos nominais, a resposta é não. O brasileiro está acostumado com juros de 20%. 

 Essa declaração da Moody’s, que melhorou a nota do Brasil, tem algum reflexo prático na economia?

 Nenhum.   É uma angulação política. 

 A mudança na presidência do Banco Central vai alterar alguma coisa? 

 Acho que não. O novo estatuto do Banco Central, que obviamente  decorre da lei de autonomia, constrange muito a atuação do presidente e da diretoria. O presidente, a diretoria, são obrigados a prestar contas e é um assunto que é relativamente bem amarrado. Então com isso, o Gabriel Galípolo, em bom português, arriscaria ter dificuldade até judiciais, se ele resolver pintar e bordar, não existe isso agora.

O atual presidente, Roberto Campos Neto, foi muito pressionado, pelo menos até agora.  O Galípolo vai aguentar essa pressão?

 Então, eu acho que ele tem um nível de diálogo muito melhor com esse povo, que é do mesmo time. Eu acho que o Galípolo está para o Fernando Haddad, assim como o Haddad, está para o Lula. Ou seja, o Haddad não faz  tudo que o PT gostaria,  que a Gleisi Hoffmann gostaria, nem tampouco o  Galípolo  vai fazer o que a Gleisi Hoffmann gostaria.  Eu acho que já está até escalada a história dos próximos meses.  Quer dizer, a taxa de juro já sobe agora e ele vai ter um espaço de bom moço bastante folgado. Por que? Porque a taxa vai estar tão escandalosamente elevada, se for até os píncaros dos 11,5 ou 11,75 do qual se fala, que ele terá espaço para vir descendo para 11,5, para 11,25, vir descendo devagarinho. Lá para meados do ano que vem, ele começa a baixar.  Quer dizer, tudo isso vai estar na conta do Campos Neto, que é um presidente do Banco Central que,  independentemente dos solavancos que hoje em dia qualquer economia tem, que na sua gestão teve Covid, teve surto inflacionário mundial e assim por diante,  o fato é que ele pegou em uma Selic com 6,5 e vai deixar uma Selic provavelmente com 11,5,  quase o dobro. Não é uma história brilhante. Eu acho que ele sai muito prestigiado. Foi o homem do Pix, mas não o homem dos juros, dos juros equilibrados.

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