O encolhimento do PSDB fez com que o partido buscasse outros caminhos para sobreviver, sem deixar de lado as bandeiras que sempre defendeu. Um dos articuladores desse trabalho é o deputado federal Aécio Neves, que tem se dedicado na construção desse novo projeto, que segundo ele, é uma espécie de reconstrução do PSDB, a partir da fusão com o Podemos. Mas ele tem enfrentado alguns obstáculos pelo caminho, como o presidente do PSD, Gilberto Kassab, que conseguiu atrair prefeitos e governadores do PSDB.
Mas como frear essa pressão do PSD de Kassab, que já tirou muitos prefeitos e governadores do PSDB?
Na verdade, é o modus operandi do PSD. O PSD, assim como outros partidos, que é diferente do nosso, mas eu tenho muito respeito aos quadros do PSD tem, inclusive em Minas. Tenho relações muito próximas com todas as suas principais lideranças do PSD em Minas, mas eles têm um sentido da política diferente do nosso.A lógica política do PSD é diferente daquela que eu defendo. O PSD busca um crescimento de qualquer forma para aumentar o fundo eleitoral e com isso, ter mais deputados, mais cargos em governos, para apoiar qualquer governo, seja de esquerda, seja de centro, seja de direita, como vem fazendo. É um partido que não tem dificuldades, por exemplo, em participar, como participou com vários ministérios do governo Bolsonaro e, agora, participar da mesma forma do governo do Lula. O PSDB quer chegar ao poder, mas com o projeto de país. O PSDB não se sente representado pelo que o governo Lula faz hoje, ou pelo que o Bolsonaro fazia. O nosso caminho talvez seja mais largo, mas é aquele que me faz fazer política. Agora, se o partido do presidente Kassab encontra eco, como encontrou em quadros do PSDB, eu lamento, mas é porque esses quadros tinham mais afinidade, provavelmente, com esse tipo de política do que com aquela que o PSDB defende.
Como retomar a força do partido?
Quando nós criamos o PSDB, há 37 anos, nós saímos de todos de partidos do governo para a oposição. Ninguém acreditava que o PSDB poderia chegar ao governo federal, aos governos estaduais. Nós governamos o Brasil pouco tempo depois. Governamos 18 estados brasileiros pregando um projeto de país. Claro que eu lamento que alguns quadros tenham saído, principalmente o governador Eduardo Leite, em quem nós apostamos muito. A minha avaliação é que ele optou por um projeto regional, onde talvez ele tenha as condições que o Kassab oferecia a ele para disputa fossem melhores do que as do PSDB. Acho que foi um equívoco, mas não cabe a mim fazer agora outro julgamento além desse. Isso não muda o nosso projeto, eu acho que o Brasil carece, precisa de um projeto como o que o novo PSDB vai apresentar a partir do dia 5 de junho, quando nós deveremos aprovar essa fusão na nossa convenção.
O ex-presidente Michel Temer também tem falado muito nisso. Inclusive da união dos governadores de direita a um projeto consistente. É esse caminho também a ser perseguido?
O PSDB, quando Temer era presidente, é que garantiu a sustentação daquele seu governo de transição, que foi importanteparao Brasil, em um momento traumático. Viemos do impeachment de uma presidente que quebrou o país e que usou de todos os métodos ilegais possíveis para vencer as eleições e acabou não se sustentando no cargo. Sustentar o governo Michel Temer foi um ato de responsabilidade nossa. A partir daí, mantivemos uma relação estreita e eu acho que ele, Michel, tem a mesma preocupação que eu. Não é possível que nós conformemos em deixar como legado para os nossos filhos, os nossos netos, um país com essa população tão rara, uma situação tão perversa para com o país, porque ela impede construções políticas consensuais que nos permitam avançar na economia, na qualidade do serviço público, na qualidade da saúde, da segurança pública. O nosso esforço é exatamente esse, construir alternativas desapegadas dos extremos. O ex-presidente Temer é certamente uma liderança importante nessa construção.
Como o senhor se posiciona em relação a essa briga de Legislativo com o Judiciário e da anistia dos envolvidos nos atos golpista e no escândalo do INSS? Em relação ao INSS, eu assinei a CPMI e isso tem que ser investigado, independente de ter começado no governo A ou B. É um crime contra os brasileiros mais vulneráveis e aqueles que estão envolvidos, se têm responsabilidade, devem ser punidos exemplarmente. A questão da anistia, alguns estão ajudando a construir, inclusive com o diálogo com o Poder Judiciário, com ministros do Supremo, um caminho em que aqueles que serviram de massa de manobra para essa tentativa golpista tenham suas penas recalibradas, com uma dosimetria mais razoável MM o que permitiria que a grande maioria deles fosse cumprir essa pena em casa e os responsáveis seja financiando, seja conduzindo a tentativa de golpe, esses tem que ser punidos de forma também exemplar. Nós sabemos que custou ao Brasil - eu sei pessoalmente o que custou à minha família-, a retomada da democracia, mas principalmente o que custou aos brasileiros os 20 anos de autoritarismo. Quanto a questão de poderes, a Constituição - eu sou um dos signatários dela - logo no seu início, prevê uma relação independente e harmoniosa entre os Poderes. E nós temos que buscar isso. Existem alguns exageros. Acho que o Judiciário avança em determinados temas que não seriam da sua atribuição e faz de forma monocrática. Então é preciso que haja, de parte a parte, a compreensão de que é preciso retomar aquilo que prevê a Constituição, garantindo a independência, mas também harmonia entre os Poderes. Com cada um, limitando as suas ações daquilo que a Constituição determina.Portanto, eu acho que nós temos pela frente uma oportunidade também de uma reconciliação entre os Poderes e dos Poderes com a sociedade. Tudo eles estão extremamente