A medicina avançou muito nos últimos anos. Novos medicamentos, tecnologia de ponta e profissionais cada vez mais capacitados. Essa a realidade que a médica cardiologista Patrícia Tavares Felipe Marcatti (foto/reprodução internet) encontrou na rede Mater Dei, onde assumiu o comando do Departamento de Cardiologia do hospital, que é referência no país. Esses avanços têm ajudado a melhorar a qualidade de vida das pessoas e é pensando nesses avanços que a doutora Patrícia pretende avançar com sua equipe.
O que esperar do seu comando na cardiologia do Mater Dei? Você pretende fazer alguma mudança? Implantar algum sistema diferente?
O que a gente espera agora que eu assumi o hub Grande BH, que são os quatro hospitais, é uma integração maior da Rede, tentando buscar justamente uma qualidade em todos os serviços. A qualidade pela vida que é um objetivo maior e é uma missão do hospital. E, além disso, a ideia é uma união da nossa equipe dentro da cardiologia como um todo, para fortalecimento de cada setor, aprofundando nos processos que a gente consiga crescer fortemente, aprofundando em cada área dentro da cardiologia. Temos hoje um serviço de alta complexidade, que tem muitas e muitas áreas. Desde serviços de alta complexidade, como troca de válvula percutânea, TAVI, tem serviços de hemodinâmica vasculares de alta complexidade, cirurgias cardíacas de alta complexidade e um dos nossos objetivos, também ,é desenvolver o que vem de acordo com o mercado, que é o cardiointensivismo, Tivemos na última semana de julho, uma nota da Sociedade Brasileira de Cardiologia, em associação com outras entidades importantes como AMB, que é Associação Médica Brasileira, um reconhecimento dessa subespecialidade agora com registro. Então o nosso objetivo é alinhado com o que vem acontecendo, a gente ter uma oportunidade de crescer nas áreas mais importantes dentro da cardiologia como um todo. O cardiointensivismo é um foco e é um dos principais pontos que eu vou tratar no meu plano de ação nos primeiros dias de trabalho. A ideia é justamente a gente ampliar e aprofundar em cada setor que já temos nesse hub da Grande BH.
O que leva as pessoas a terem problemas no coração? É o estilo de vida? É genético?
Tem um componente importante genético, mas tem os fatores de risco, que são os principais fatores que consideramos modificáveis e que podemos mudar a história da doença cardiovascular, que impacta em quase 70% desse risco. Há três anos, em 2022, a Sociedade Americana de Cardiologia fez uma campanha com os oito pontos essenciais para uma vida saudável. E é justamente esses oito pontos que estão associados ao aumento de risco da doença cardiovascular. E que continua sendo a líder de mortalidade no Brasil e no mundo inteiro. Em que que se resume, esses oito pontos? Muitos que a gente já conhece, mas vale a pena reforçar que o básico bem-feito faz toda a diferença. É desde a atividade física, levando em consideração a atividade física aeróbica e a resistida na quantidade certa, 50 minutos de atividade física aeróbica, pelo menos três vezes na semana, que é o que a organização mundial de saúde preconiza, e duas vezes de resistida. É pressão controlada, colesterol controlado, glicose controlada. Ter um peso adequado, não estar com sobrepeso, obesidade, alimentação adequada, não fumar e ter bons hábitos, principalmente noturnos. Ter uma noite de sono adequada, chegando a 6, a 9 horas de sono por noite. Isso são fatores de risco modificáveis e é o nosso papel enquanto cardiologistas, reforçar a importância de tentar acompanhar de perto esses índices. E aí eu falo muito da pressão, colesterol e glicose, que hoje a medicina preventiva bate muito na tecla, que muitas das vezes são aspectos sem sintomas e que se detectados precocemente, evitam de fato, quando tratados, um evento cardiovascular a médio e longo prazo. Então, o contexto hoje de não termos tão forte a medicina preventiva e mais a medicina terapêutica, quando o paciente já chega com um evento, isso é muito ruim, impacta muito no resultado final e mantem essas doenças cardiovasculares ainda como líder de mortalidade.
O fato de o brasileiro ter medo de médico, de só procurar atendimento quando sente algo, prejudica nos tratamentos?
Sem dúvidas, estamos falando justamente de fatores de risco modificáveis e não somente do ponto de vista cardiovascular. Sabe-se que esses fatores de risco acabam agregando riscos de outras doenças metabólicas e, inclusive, em risco de câncer e outras condições que podem ser agravadas aí, como obesidade, pressão alta e outras doenças vasculares também. Sem dúvidas o medo de ir ao médico impactará e deve ser desmistificado, porque isso reduz a mortalidade e consegue ter um controle para ter uma qualidade de vida melhor e mais longeva.
Tem um outro perigo que se chama doutor Google, o doutor Google também é um problema hoje enfrentado pelos médicos?
Sem dúvida. E não é só o doutor Google hoje, agora o ChatGPT, a Inteligência Artificial, entrou na rota também, porque muitas vezes o paciente se prende ali, onde há uma informação como “pacientes infartados com dor no peito” e muitas das vezes os sintomas podem ser atípicos e esse paciente evitar de ir a um Pronto Atendimento achando que está bem orientado, enquanto ele pode estar tendo um evento coronariano, um evento cardiológico agudo que poderia ser tratado imediatamente, corrigido e bem controlado, esse paciente perde a chance, e vai muito tardiamente ao hospital, porque se prendeu a informações que não são direcionadas para esse paciente e, às vezes, de fontes que não são confiáveis.
O Mater Dei hoje é uma referência no país?
Sem dúvida, o Mater Dei é um hospital de alta complexidade, que atende desde a prevenção, até os casos de mais alta complexidade, que hoje a cardiologia pode enfrentar. O hospital está preparado para poder atender a demanda da jornada do paciente cardiológico, quando detectada qualquer alteração e com muita tecnologia, com muita estrutura, com o que há hoje de melhor para assistência dos pacientes. Tenho 14 anos de formada em medicina e o meu objetivo é justamente trazer essa energia que eu tenho do momento muito produtivo da minha carreira, para poder transformar e crescer o hospital que está em um momento de ascensão e crescimento. É no contexto da Rede como um todo, que a gente acabou de ter uma nova unidade que vai ser inaugurada agora, na segunda quinzena de agosto, que é o hospital de Mariana. Nós estamos acelerados.