Por: Paulo César de Oliveira
Não foi muito feliz o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, em entrevista à TV Brasil, quando criticou o financiamento privado de campanhas políticas. O ministro, que sempre se envolve em polêmicas, colocou sob suspeita todos os parlamentares que tenham recebido doações de empresas, empresas de obras públicas ou não, para suas campanhas. Este tipo de doação, para o ministro sai caro, pois empresas não doam por altruísmo, por ideologia. Colocam dinheiro nas campanhas e depois buscam “o troco e este troco sai caro para a sociedade”. Bem, para Marco Aurélio, todos os que recebem doações estão dispostos a devolver o troco. Ou seja, são todos iguais. Não há diferença entre políticos. O ministro não esclareceu quem, normalmente, dá mais troco. O Executivo ou o Legislativo. Mas talvez o ministro não tenha atentado para um outro lado do tema. Neste jogo do escolhido ter que devolver troco, entram também os membros do Judiciário, escolhidos em listas tríplice, ou não, pelos chefes dos Poderes Executivos? Também quem é escolhido, por exemplo, para ministro do Supremo tem dever de gratidão com quem o indicou e se transforma em “devedor de um troquinho”? Por qual razão apenas os financiados se deixam corromper e os escolhidos são puros? Esta história de financiamento público ou privado não tem a simplicidade que o ministro Marco Aurélio quer fazer parecer que tem. É assunto complexo e, certamente, não é caminho único para resolver a corrupção. Até porque não é uma simples proibição que faz cessar as trapalhadas. Marco Aurélio pode apostar que, mesmo proibido o financiamento privado não deixará de existir. Há formas de burlar a proibição. E ninguém tem medo de burlar leis. Aqui entre nós a certeza da impunidade é uma realidade. Afinal, quem tem medo de nosso Judiciário?