Por: Antônio Anastasia, senador
Temos assistido, nesses últimos meses, as vozes das ruas se manifestarem contra as medidas que o governo federal propõe. O Brasil se vê mergulhado em uma crise econômica, que engloba alta dos preços e diminuição da atividade econômica, e em uma crise política, em que o cidadão, com razão, questiona o sistema de representação, ao ver muitas vezes seus políticos eleitos preocupados com questões alheias ao interesse público. Os desafios são muitos e é preciso enfrentá-los. Dois pilares fundamentais são necessários, porém, para que possamos sair dessa situação. O primeiro é a liderança. Em situações como essa, precisamos de alguém que, com a confiança da população e referendada por ela, possa apontar com convicção um caminho seguro e por ele conduzir todo o Brasil, governo, Poder Legislativo, empresários, trabalhadores, toda a sociedade civil.
Apenas a liderança, no entanto, não bastará. Temos que recuperar no Brasil uma figura que parece um pouco esquecida entre nós, a do planejamento. Questionei recentemente em audiência pública no Senado ao ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão: afinal, qual é o grande plano de desenvolvimento do Brasil? Fiquei sem resposta. Quando o ilustre mineiro Juscelino Kubitschek assumiu a Presidência da República, em meados da década de 1950, tivemos um projeto nacional de desenvolvimento muito claro, que se resumia em duas palavras: energia e transporte. A história mostra como o país se desenvolveu naquele período. Observe bem, tínhamos naquela época os dois elementos que agora defendo: a liderança de JK e o planejamento que norteou as ações do seu governo. Agora, no entanto, passados 60 anos, nós observamos que ainda não temos no Brasil nem energia nem transporte à altura das necessidades do povo brasileiro, pela falta de continuidade daquelas políticas então iniciadas. Aliás, quais serviços públicos podemos apontar como de excelência no Brasil de hoje? Esse, considero, é o problema crucial que temos de enfrentar. O brasileiro não vê retorno satisfatório nos impostos que paga. E não vê porque, em grande medida, esses impostos são mal gastos. E são mal gastos porque não há prioridades, planejamento, gestão. É um ciclo vicioso.
Durante os últimos 12 anos em Minas Gerais, todos se lembram bem, tínhamos um mote que era muito claro: gastar menos com a máquina pública e mais com o cidadão. Enxugamos gastos, equilibramos o orçamento e, a partir daí, conseguimos entregar serviços públicos de melhor qualidade. Muitos deles ainda aquém da necessidade e distantes da realidade dos países mais desenvolvidos, mas a melhoria, paulatinamente, era sentida pela sociedade mineira.
Isso foi possível porque tínhamos um norte certo, um rumo, uma visão muito clara de onde queríamos chegar: tornar Minas o melhor estado para se viver. Todo o planejamento, todos os projetos, cada ação desenvolvida, tudo tinha esse mantra como pano de fundo. Metas e resultados como moldura da ação governamental. Dou um exemplo prático daquilo que vivenciamos em Minas para demostrar de modo claro que, a despeito de todos os desafios – e eles não são pequenos – podemos fazer da crise uma oportunidade. Há diversas reformas que precisam ser encaradas, a política, a tributária, a da administração pública, a da infraestrutura, a da segurança pública. Todas elas demandas nacionais, temas que precisam avançar. Não vamos conseguir evoluir em nenhum se não tivermos uma liderança firme e um planejamento bem elaborado.