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Líder do agronegócio pede paciência com o governo

Os empresários ligados ao agronegócio têm tido motivos de sobra para se preocupar. A proximidade do governo brasileiro com Israel deixa os exportadores para os países árabes com o cabelo em pé, temendo perder importantes negócios. A aproximação com os Estados Unidos também enche os empresários de dúvidas e para complicar, ainda tem o Plano Safra desse ano, que está sendo negociado com o governo federal. O presidente da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais- Faemg, Roberto Simões (foto), tem uma série de reivindicações, que são de todo o setor.

 

Quais as preocupações e reivindicações em relação ao Plano Safra que está sendo elaborado pelo governo?

A cada ano nós temos insistido com o Ministério da Agricultura que nós precisamos, antes de tudo, de um Plano de maior duração no tempo. Um Plano Plurianual ou pelo menos de duração de um mandato de governo para que possamos ter um horizonte de planejamento mais adequado, o que não temos tido nos últimos anos. O governo resume um plano de ano a ano, que é um prazo curtíssimo para que se tenha investimentos, para que se decida se se investe ou não e em que setor. Então, queremos um Plano Safra com maior duração e ano a ano, evidentemente, se corrige para o ano. Para este ano, voltamos a insistir de novo na necessidade do seguro. Uma agricultura deste tamanho não se faz sem seguro. A agricultura americana chega a 95% de seguro. Quem não faz é porque é extremamente rico e não precisa nem de seguro. A nossa, se tiver 5% é muito. É uma verdadeira loucura o que se faz, porque estamos sujeitos a vários fenômenos externos e por isso, as concessões de crédito nos levam a todo ano a um trabalho insano para regular fluxo de caixa de produtor, a prorrogar, por falta de seguro. É um ponto que estamos insistindo ano a ano, um ano melhora, outro piora, mas é preciso ser mais contemplado. Outro tema do momento é a abertura total que se quer conferir ao Brasil de uma hora para outra e retirar todo o subsídio que puder existir de crédito governamental. Primeiro, estamos vendo que o governo não consegue mais acompanhar, porque as safras são muito grandes e os financiamentos com recursos do governo, se chegar a 30% é muito. E se tirar o subsídio de um momento para outro, dificulta extremamente a produção. Acho que isto é uma meta que deverá existir e nós temos que buscar novas fontes de investimentos, mas que sejam fontes com juros compatíveis com a atividade desenvolvida, porque ano a ano os preços da agricultura tendem a ser menores, as produções muito grandes e quem se beneficia disso é a população brasileira. Nós temos hoje no Brasil, sem dúvida alguma, a alimentação mais barata do mundo e a tendência é a de ser mantida pela queda dos produtos das commodities. Precisamos ter condições de juros e de crédito que caiba dentro dos custos de produção, senão vai inviabilizar essa pujança agropecuária que nós temos no Brasil e em Minas Gerais.

 

Qual a disposição do governo no atendimento a essas demandas?

Em um primeiro momento, como agora, as discussões são mais difíceis, embora nós tenhamos um Ministério da Agricultura que acho ser o mais adaptado que já tivemos, até hoje à produção rural. A ministra Tereza Cristina é uma produtora rural, é agrônoma, é uma deputada federal que sempre lutou ao nosso lado, na Frente Nacional da Agricultura, foi presidente da Frente, ela conhece como ninguém os nossos problemas, é vinculada ao setor através da Federação Nacional, foi lá que ela sempre buscou ajuda, as informações que ela precisa e continua sendo nossa parceira. É um momento muito próprio para nós termos condições de trabalho, principalmente porque é um governo que nós esperamos seja um pouco diferente, que foque mais no setor produtivo, no desenvolvimento, na geração de renda, no respeito à propriedade privada. Então, temos condições. Nesse primeiro momento, há que se haver um pouco de paciência para que o governo conheça a situação, se estabeleça e finalmente possamos ter políticas mais adequadas.

 

Muitos estão preocupados com a maneira um pouco atabalhoada desses primeiros meses de governo e temem que a economia fique paralisada. O senhor também teme que esse governo não avance o esperado?

A ansiedade de nossa parte, vem de anos lutando por coisas melhores, que nos ajudem a melhorar a produção e ficamos extremamente ansiosos. Mas nós temos que dar um crédito de confiança, ter um pouco de paciência e esperar. No início de todo governo existem certas tribulações, confrontos de posições até que as coisas se ajustem.  Parece, que desta vez   está havendo um pouco mais, mas a expectativa é a de que finalmente as pessoas pensem no que o país precisa, na sua população e amenizem os ânimos e vamos discutir aquilo que será necessário para o país e não pensar, como se fez por longo tempo, nas pessoas, nos próprios projetos de cada um. Temos que pensar a nação acima de tudo, pacificarmos, e nos colocarmos, todos a serviço do Brasil, como ansiosamente esperamos. Acredito que teremos juízo, um pouco de calma para que as coisas iniciem o funcionamento.

 

Parece que está todo mundo aguardando a reforma da Previdência. Ela é mesmo necessária para melhorar as condições de investimento no país?

Ela é absolutamente necessária. Nós não podemos seguir com esse modelo de déficit crescente em qualquer setor. O que está faltando é uma comunicação melhor a respeito do que seja a reforma da Previdência, porque é uma coisa que vai mexer com interesses e é natural que isso tenha oposições. Todo mundo acha que se fizer uma pesquisa, sem dizer o que, perguntando se a pessoa acha que devem ser feitas as reformas, acredito que 100% da resposta será sim. Agora, pode a reforma dos outros, a minha não. E aí, não tem jeito de fazer. É preciso haver um pouco de sacrifício, mas é preciso explicar melhor o que vai resultar desse sacrifício de cada um. Será possível investir mais, será possível criar novas fontes de trabalho, de geração de renda, aí é que vai nos animar a votar. Dizer que vai fazer um sacrifício para o futuro, isso não existe, ninguém está disposto a fazer. Nós precisamos saber o que isso vai gerar de benefício para o nosso país.

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