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Não temos mão de obra qualificada para garantir o crescimento econômico

Paulo César de Oliveira
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O setor industrial brasileiro enfrenta um paradoxo. Num país com 11,6 milhões de desempregados, metade das fábricas do país diz ter dificuldade para encontrar mão de obra qualificada. Os dados integram um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgado ontem. Em 2011 e 2013, quando um levantamento similar foi realizado, 66% das empresas do setor industrial reclamavam de falta de trabalhadores qualificados. “O dado da falta de mão de obra chama muito a atenção com esse nível de desemprego e com uma indústria patinando que não encontra um caminho de crescimento”, afirma o gerente-executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI, Renato da Fonseca. A redução na fatia das fábricas que diz não encontrar mão de obra qualificada de 2011 para cá é explicada pela crise econômica, segundo a CNI. Com a recessão em 2015 e 2016 e a lenta da economia nos anos seguintes, muitas indústrias reduziram o quadro de funcionários e deixaram de contratar. “Quando a economia voltar a crescer, a falta de mão de obra qualificada vai dificultar essa retomada. Vai dificultar a inovação dentro das empresas e ter um impacto na competitividade do setor, que já não é alta”, afirma Renato da Fonseca.

 

Nosso ensino é de baixa qualidade

A pesquisa da CNI ainda apontou que as empresas têm dificuldade em encontrar mão de obra qualificada em todos os níveis, mas nos cargos de produção essa barreira é maior. Pelo levantamento, 96% das empresas reportaram dificuldade em contratar operadores qualificados, e 90% disseram que o maior desafio está em encontrar técnicos capacitados. Na leitura da CNI, são dois os fatores que colaboram para um quadro tão ruim. Primeiro, o Brasil tem um nível educacional muito ruim. Em dezembro, o último resultado do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês) mostrou que o país caiu no ranking mundial de educação em matemática e ciências e ficou estagnado em leitura. Segundo, a formação do Ensino Médio é considerada bastante generalista. “Há um problema de qualidade e foco na educação”, diz Fonseca. “A reforma do Ensino Médio pode ajudar porque abre o caminho para uma educação profissional.” Em 2017, o então presidente Michel Temer sancionou a chamada reforma do Ensino Médio. A reforma flexibilizou o conteúdo que é ensinado aos alunos e deu mais importância ao ensino técnico. Para lidar com a falta de mão de obra qualificada, 85% das empresas realizam capacitação na própria empresa e 42% oferecem algum tipo de treinamento fora da empresa, segundo a CNI. “Um trabalhador pouco produtivo não aparece diretamente na planilha de custos, mas significa que o produto sai mais caro e a empresa perde competitividade”, diz Fonseca.

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