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A reforma da Previdência é importante, mas a falta dela agora não causa tantos problemas

Paulo César de Oliveira
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Presidente do BNDES e apontado como um dos presidenciáveis, o economista Paulo Rabello de Castro considera que o país precisa mesmo de promover uma reforma previdenciária que, se não ocorrer agora, será feita logo adiante, mas não a coloca como tão essencial para o governo Temer. Se acontecer, melhor, mas se não for aprovada agora, não significa o fim político do atual governo e, muito menos um entrave intransponível para a economia. Rabello (foto) lembra que outras, e importantes, reformas foram realizadas por Temer, pavimentando o caminho do desenvolvimento. Para o economista, o importante é o país começar a planejar seu futuro, ousando estabelecer um plano de desenvolvimento de longo alcance, a partir de um debate com a sociedade. Ele está colocando o BNDES a serviço desta proposta, organizando um fórum com entidades empresariais para elaborar um programa para o Brasil 2035.

 

O governo tem se esforçado para garantir a reforma da Previdência e enfrenta dificuldade para aprova-la. O governo tem outro caminho para garantir a continuidade do crescimento da economia?

A economia já está sendo melhor conduzida desde que o presidente Temer assumiu. São inúmeras as iniciativas, que já foram aprovadas. Basta lembrar a reforma trabalhista, a nova lei das estatais que ordenou o campo das empresas com maioria de capital do governo, o teto de gastos, citando só três medidas de altíssimo impacto. A da Previdência seria mais uma reforma importante de ser aprovada. Se não for, entretanto, não interrompe a governança, nem antecipa o final do governo Temer, que vai até o dia 31 de dezembro de 2018.

 

O senhor é da teoria de que se não fizer agora vai ter que fazer depois?

Essa não é uma teoria. Isso é uma verdade que apenas aqueles que não conseguem verificar que o sol nasce no leste é que insistem que não há déficit no campo previdenciário, seja público ou privado, civil ou militar. Essa é uma crônica do déficit anunciado. A grande questão é que, de fato, torna até compreensível a resistência, é o fato de que hoje estamos diante de uma reforma do não. Nós não podemos conviver mais com uma previdência que não tem idade mínima para a aposentadoria, quando as pessoas, felizmente, estão ficando idosas mais saudavelmente, e representam mais gastos previdenciários. Nós não podemos diferenciar entre brasileiros, que tem situação igual na vida cidadã e que, no entanto, são tratados de maneira desigual na Previdência. Uma Previdência igual ou mais igual para todos é absolutamente fundamental. Essas são a reforma do não. Não da mais para continuar como está. Por que não foi anunciado que em uma próxima administração, se votarmos em pessoas que tem a cabeça no lugar, vamos ter uma reforma do sim. Sim para uma nova Previdência para aqueles que estão entrando no mercado de trabalho, e , quem sabe, para todos que venham a optar por essa nova Previdência, que é basicamente uma Previdência que rompe com esse temor do desequilíbrio atuarial.

 

Parece que o desequilíbrio está em toda parte, inclusive no pagamento de benefícios como no caso do auxílio moradia, que vem causando polêmica. Muitas categorias do serviço público têm benefícios demais?

Privilégios, de fato estão espalhados, mas não por toda parte, porque matematicamente não estaria contida em uma equação, só em uma inequação, porque, se todos têm privilégios, ninguém tem, porque alguém está sempre pagando. Alguns têm privilégios. O que parece todos porque são os que nós conhecemos, que estão mais próximos de nós. A grande maioria do Brasil é a do sofrido povo brasileiro, que paga a conta. Paga quando compra uma pasta de dente, quando compra um quilo de café ou um quilo de açúcar, onde os mais altos impostos do mundo são cobrados para cobrir esses privilégios. Na verdade, não é só o privilégio em si que deve ser reexaminado, seja auxílio isso, ou auxílio aquilo. Nesse sentido, até o auxílio de Bolsa Família, no sentido que nós precisamos de um auxílio para a família brasileira, mas de maneira mais dinâmica, através de um choque de prosperidade, para que as pessoas envolvidas nesse auxílio possam imigrar para uma situação melhor e estabelecer o seu próprio sustento.

 

Essa discussão seria viável em uma campanha eleitoral?

Acho que ela deve ser o cerne de uma campanha presidencial. O BNDES, que é a minha preocupação hoje é inteiramente esta, apresentará e fará um debate entre fevereiro e março, de um grande projeto que nós estamos chamando “Brasil 2035”, que representa uma visão do BNDES tanto setorial, quanto regional, para provocar as contribuições de todas as confederações patronais, de todas as centrais de trabalhadores, da academia, de um IPEA que é mais do que nunca categorizado para planos econômicos, das Forças Armadas, do Itamaraty e de todos que estão interessados no futuro do Brasil, com uma visão, não da próxima administração, mas daquilo que de fato precisamos ter: um pacto em torno da prosperidade para transformar o Brasil, como quer o BNDES, em um país desenvolvido até 2060.

 

O senhor mantém a sua pretensão de candidatura?

Ninguém pode ter a pretensão de destino. Estou cada vez mais convencido de que de anda adianta qualquer pré-candidato ousar, por pensamento que seja, a condição de reger essa orquestra hoje, ainda um pouco desafinada. Nós precisamos entender que isso é destino. Portanto, no máximo nós podemos aprontar para dar uma contribuição para o debate, que é o que pretendemos. O BNDES já dará, porque 2035 está aí e o BNDES é o banco do desenvolvimento, o desenvolvimento que hoje nos falta e na medida em que vamos apresentar, primeiro para a sociedade produtiva brasileira e daí emirja um conjunto, não necessariamente homogêneo, mas que tenha harmonia com todos os partidos e todos os candidatos que vão disputar o pleito, quem sabe isso seja um exemplo para o Brasil do futuro. Ou seja, termos um governo planejado e pactuado, como também, que isso faça com que federações patronais, aqui, inclusive em Minas, se disponham a apresentar aos candidatos estaduais e aos candidatos ao governo, seus respectivos planos estaduais de longo prazo. Imagine um Brasil com 27 propostas estaduais de longo prazo mais a proposta federal?

 

Quais são as características de um bom afinador de orquestra?

Seria de harmonizar dissensos e a de potencializar consensos. Essa tarefa do governo do século XXI. Os dissensos são aqueles provocados por rupturas emocionais, como o que estamos vivendo hoje, entre uma suposta esquerda magoada e uma direita excitada. Eu acho que o Brasil que funcionará não será uma batalha campal entre essas duas posições angustiadas, que nós vivemos hoje, portanto, harmonizar dissensos é essencial, mas, principalmente, potencializar aquilo que entendemos entre direita, centro e esquerda, seja lá quem for, que sejam ideias afinadas com o futuro. Se nós não tivermos um mínimo de racionalidade, não vai haver tantas diferenças. O que o governo tem que fazer é fazer emergi-la. O que o BNDES pretende fazer com o plano Brasil 2035 é começar a fazer essa afinação. Acho que dará uma contribuição inestimável, junto com o planejamento estratégico 2035, que o banco, por ser do desenvolvimento, está fazendo. Esse trabalho, aliás, começou da necessidade de projetar um Brasil que gostaríamos de ter para poder inserir um banco que queremos ter de desenvolvimento e do desenvolvimento do Brasil.

 

O senhor pretende sair quando do BNDES para se candidatar?

Quando nós chegamos ao BNDES nós dissemos que precisávamos fazer seis anos em seis meses, repetindo, com muita insolência, uma frase fabulosa do nosso sempre saudoso presidente Juscelino Kubitschek, de fazer 50 anos em cinco. Fazer seis anos em seis meses não passa de uma pretensão até copiativa. Mas resultou bem. Nós produzimos muito mais de seis meses de governo no BNDES. Assim como acho que produzimos no IBGE em 11 meses, acho que fizemos uns 11 anos.

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